Os telefones não paravam de tocar. Os dois celulares e o ramal do gabinete da badalada autora da Lei Antibaixaria. O primeiro mandato chega ao fim, mas ela não para. Luiza Maia, deputada estadual reeleita para a nova Legislatura de 2015 a 2018, na Assembleia Legislativa da Bahia, professora, concedeu entrevista ao jornalista Carlos Eduardo Freitas. No papo, a parlamentar conhecida nacionalmente por causa da Lei que proíbe o governo baiano de contratar bandas que destratam mulheres em suas músicas, destacou a atuação do mandato nos últimos quatro anos e projetou o futuro – inclusive a possibilidade de concorrer à Prefeitura de Camaçari após a gestão do atual prefeito, Ademar Delgado.
Defensora dos direitos da mulher e da “ditatização do combate à baixaria”, ela sinaliza que o país também precisa de uma urgente reforma no sistema político. Maia fez um panorama da conjuntura política nacional e baiana, pós-eleições, disse que vai retomar a luta para aprovar seu projeto do Voto Aberto e da Tribuna Popular. A deputada é favorável também à democratização dos meios de comunicação no Brasil.
Deputada Luiza Maia, reeleita, teve todo um trabalho destacado pela imprensa nacional, uma parlamentar de ‘primeira viagem’, chegou causando na Assembleia Legislativa… Qual a sensação de emplacar um segundo mandato consecutivo?
É um sentimento de vitória. Acho que o trabalho que fizemos aqui, eu sou uma política que tem uma visão muito crítica em relação ao poder legislativo, acho que nós precisamos resgatar o prestígio desse poder. Aqui o grande legislador é o governador. Se fizer um levantamento na Casa, no ano, quem legisla é o governo. Há uma cultura atrasada de não votar as proposições de deputados, mas como eu sou uma pessoa que tem uma visão diferente de ver e fazer a política, soube fazer esse trabalho, esse debate, esse enfrentamento, e acabou que nosso mandato teve uma repercussão muito grande, não só aqui na Bahia, mas no Brasil. A defesa dos direitos das mulheres é sempre o foco desse mandato, mas costumo a dizer que qualquer grupo social que não tem seus direitos assegurados, meu mandato está aqui para defende-los.
E a política brasileira?
Hoje há uma distorção muito grande sobre a políticas, mas o sistema político no Brasil hoje é uma coisa velha, ultrapassada, que não serve mais. Nós temos que ter coragem para fazer esse enfrentamento. É um país dividido em classe, hoje vemos as elites querendo mandar e desmandar, tem força no país.
Voltando ao primeiro mandato… E a reforma política?
Acho que fiz minha lição de casa, fiz meu dever enquanto parlamentar, mas temos que ter coragem para enfrentar os conservadores. A reforma política tem que está na pauta. Nossa presidenta Dilma já anunciou que é preciso fazer essa reforma. É uma discussão que está na pauta de todo mundo que não aceita mais esse sistema político. O poder financeiro decidindo o resultado das eleições. Esse novo Congresso está lá os milionários, banqueiros, latifundiários, donos do agronegócio, e a sociedade sempre fora desses espaços, enojada, inclusive, com a política, pois a grande mídia faz o papel de desconstruir a política e colocar todos os políticos como corruptos, desonestos, que a política é uma coisa suja. Precisamos reeducar nossa sociedade, fazer campanhas educativas para que os espaços de poder deem chances a todo grupo que representa a sociedade. Hoje a bancada feminina aqui na Casa diminuiu, éramos 11 e hoje somos apenas sete.
E a presidência da Assembleia Legislativa?
Na reunião da bancada feminina colocamos da importância de eleger uma mulher presidente desta Casa, pois historicamente nunca isto ocorreu. Mas, o que ocorre é que o PT está tendendo a apoiar Rosemberg [Pinto], Fátima a[Nunes], inclusive que era minha candidata, saiu de baixo, o PSD tem Alan Sanches, então Ivana Bastos que era nosso segundo nome também saiu de baixo. Só sobra eu e Fabíola Mansur, que está chegando, vereadora de Salvador eleita deputada, mas aí só nós duas não dá. Esse machismo, maioria dos homens nos partidos, acabamos ficando de fora. Mais uma vez as mulheres acabam cedendo para os homens. Acredito que fiz bem meu mandato, não defendo que o mandato parlamentar sirva para fazer carreira político, defendo exercer apenas dois mandatos.
Foco do novo mandato será…?
Eu quero colocar como principal ponto do meu mandato esse novo ano, além dos direitos da mulher e direitos humanos, é a discussão para a reforma política e a democratização da mídia também. Acho que não dá mais para a gente tolerar os absurdos, manipulações da grande mídia, financiada em sua maioria pelo dinheiro público.
O que o eleitorado que te reelegeu pode esperar do novo mandato: uma sequência desta linha, como você disse, bem sucedida, ou você irá mais para cima, terá novidades?
Acho que a gente tem que continuar. Esse debate mesmo dos direitos da mulher não pode parar, deu certo, conseguimos colocar na sociedade essa discussão da violência contra a mulher, e principalmente a violência simbólica, a baixaria. Então é um projeto pedagógico, contínuo, de combate. Conscientizando as pessoas. Mas tem as novidades desses temas nacionais. Sabemos que não cabem a nós, não temos poder de decisão, mas a gente colaborar com essa decisão, mobilizar a população, pois essas grandes discussões só serão aprovadas se o povo for pra cima e pressionar, como foi com o Ficha Limpa. O Voto Aberto, eu vou trazer de volta meu projeto, pois é algo anacrónico, como é que você está aqui para representar o povo que te elegeu e você esconde suas decisões? O voto secreto incentiva a corrupção, é algo ultrapassado, num país que já aprovou a Lei de Acesso à informação e nós termos uma casa que resiste a isso. Outro projeto fundamental e que eles não dão a menor importância é a Tribuna Popular, o povo precisa entrar nesta Casa, ter voz, uma vez por semana, como fizemos com a Tribuna Cidadã, em Camaçari.
As manifestações de junho do ano passado, cobrando mais transparência na política e uma série de outras pautas, não refletiu nas urnas, nestas eleições, sem grandes mudanças. Aqui na Bahia, na sua opinião, qual personagem político teve a maior vitória e aquele que teve a maior derrota?
A leitura que faço aqui na Bahia é que o estado que sofreu muito e só começou a ter mudanças com a eleição do governador Wagner, e a vitória de Rui demonstrou essa força, da política que o governador Wagner expandiu para todo o estado. Acho que o maior perdedor foi o Carlismo, inclusive o DEM já discute se vai mudar de nome, fundir com outra sigla… O prefeito de Salvador tentou trazer para si, tentando ampliar sua força no estado, mas a Bahia já sofreu muito com esse grupo e o povo entendeu isso. A vitória da presidenta Dilma aqui também foi expressiva, mostrou que o povo quer avançar. O grande vencedor aqui, está claro e materializado na pessoa do governador Wagner, mas o que venceu aqui foi também um projeto político que tem dado o mínimo de cidadania para as pessoas, sobretudo aquelas mais esquecidas. O perdedor foi a oposição, institutos de pesquisa manipulando as eleições, o Ibope precisa ser processado.
Luiza, você é uma deputada atuante nas redes sociais. Na sua opinião, elas deram mais clareza ao projeto político do PT, as ações, e isso assegurou a reeleição da presidenta Dilma?
Acho que as redes sociais foram a salvador para nossa comunicação, porque o direito a comunicação e a informação é negado ao povo brasileiro, tem veículos de comunicação que não dão espaço para nós, mostram só um lado da história. A oposição no país é pequena, mas conseguiu se legitimar pelo papel de apoio a eles dado pela grande imprensa. A internet ajuda muito, mas é limitado, pois as pessoas mais carentes ainda não têm acesso, mas foi um grande caminho. Tivemos uma grande vitória, a presidenta Dilma, sobretudo, pois lutamos contra toda essa ação da grande imprensa, e contamos com o apoio do povo que tem melhorado de vida com o nosso governo do PT, contra as manipulações.
Deputada, para terminar, uma pimentinha: teríamos uma Luiza Maia candidata a prefeita de Camaçari, depois do governo Ademar?
Não sei. Sou uma militante muito dedicada à política. Sempre fui dedicada aos partidos que caminhei, foram 20 anos no PCdoB e agora no PT, apesar de não ter uma tendência muito bem definida, faz pouco tempo que me filiei à EPS, do nosso companheiro Walmir Assunção, que faz um debate muito importante sobre a questão da distribuição da terra, da luta pela terra. Enfim, o que o grupo político que eu participo me colocar como tarefa, eu não tenho nenhum problema em cumprir. Estou aberta para qualquer tarefa.