Aladim, Costelinha, Rocinante – mais conhecido como Rocin – e Silver caminhavam tranqüilamente no canteiro central da Avenida Antônio Carlos Magalhães. Aproveitavam o passeio para fazer um lanchinho, enquanto aparavam a grama com os dentes. Há poucos metros deles, estava parado um carro branco com listras laranja. E na pista ao lado passavam velozes e apressados automóveis de todos os tipos, cores e tamanhos. Alguns soltavam uma fumaça escura e faziam muito barulho. Outros buzinavam. Porém, os quatro quadrúpedes herbívoros que pastavam não se assustavam. Essa história está meio estranha, né? É que Aladim, Costelinha, Rocin e Silver são cavalos. Pois é, cavalos pastando em pleno canteiro central da ACM.

Mas, afinal, qual é o problema dos bichinhos pastarem às margens de uma movimentada avenida, em plena tarde de segunda-feira? Eles não incomodam ninguém, certo? Não é a opinião de seu Juvenal.
– Você viu o tamanho do cocô que aquele bicho deixou aqui? Esse monte verde e fedorento? – disse ele.
Seu Juvenal, nosso amigo vestido de laranja, tentava aborrecido limpar as necessidades fisiológicas que Rocin deixou no chão. De fato, Rocin depositou uma grande quantidade de massa fétida e verde no chão. Mas, eu tenho certeza de que ele fez isso para adubar a terra, e não com a intenção de aborrecer seu Juvenal. Os motoristas também não gostam muito da presença dos maltratados animais.
– Se um bicho desses atravessa essa pista aqui, nem quero pensar. Vai ser um acidente feio. Eu sei por que já atropelei um bicho em uma estrada. Só que em estrada é normal, mas no meio da cidade não dá. – comenta um temeroso motorista.
Atropelar um animal daquele tamanho, numa pista movimentada e em velocidade alta… É, não é um cenário muito animador. E os bichos podem se assustar uma hora ou outra. Quem já viu um cavalo assustado sabe que não vai dar em boa coisa. É o êxodo rural levado às últimas conseqüências. Até os animais tem de vir para a “cidade grande”.
Só que os bichinhos não estão ali porque querem. Alguém os levou. E “de quem é esse jegue?”, ou melhor, de quem é esses cavalos? “Quem souber falece”, foi o que elucidou um dos dois homens de cinza que estavam ao lado daquele carrinho branco com listras laranja. Esse repórter ainda não aprendeu a conversar com cavalos, mas tenho certeza que se pudesse ouvi-los, diriam que preferiam estar em um lugar mais tranqüilo, onde não oferecessem risco e não incomodassem ninguém. E de preferência sem emanar o odor desagradável que piorava ao sol forte.
Silver estava com uma pata quebrada. Possivelmente fora atropelado em uma tentativa de atravessar alguma avenida. É, porque para chegar ao canteiro central, é preciso atravessar a movimentadissíma pista da ACM. Costelinha, coitado, poderia ser usado em aulas de anatomia animal, já que poder-se-ia contar todas as suas costelas. Aladim, se tivesse um gênio da lâmpada como seu xará das histórias, pediria para ter um dono mais zeloso. Ou então para não ter dono nenhum e viver livre, no campo. Porque alguém que cuida tão mal dos animais e ainda tem a irresponsabilidade de deixá-los sozinhos às margens da ACM não merece nem ser chamado de animal. Seria uma ofensa aos animais de verdade. A sorte dele é que os cavalos são mansos e não têm sindicato.
Ah, lembram do carro branco com listras laranja? Era um carro da SET – Superintendência de Engenharia de Tráfego. Mas, o que os agentes de trânsito podem fazer? Os bichos não têm placa.
*Foram usados nomes fictícios na reportagem
Montagem | Cadu Freitas
Fotos | Reprodução Web