Falta pouco mais de seis meses para o Brasil receber a Copa do Mundo Fifa 2014 e um sinal de alerta tem preocupado autoridades futebolísticas, governos e a população local e mundial: a violência nos estádios. As cenas de brutalidade vistas na última rodada do campeonato nacional, no jogo entre Atlético Paranaense e Vasco da Gama, em Santa Catarina, repercutiram internacionalmente e fez o governo federal reagir.
Da Bahia ao Amazonas, estados que sediarão o mundial, o medo que o problema se repita nos jogos da Copa é latente. Tanto que os ministros José Eduardo Cardozo, da Justiça, e Aldo Rebelo, do Esporte, se reuniram com representantes do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, Conselho Nacional do Ministério Público, Conselho Nacional de Justiça e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), para traçar uma estratégia que garanta maior segurança nas arenas esportivas do país.
“Os responsáveis devem ser identificados e punidos, cumprindo-se o Estatuto do Torcedor, que prevê penas de reclusão e de banimento dos estádios aos torcedores que cometerem atos de violência”, pontua Cardozo. Se de um lado a tecnologia das transmissões de tevês tem ajudado a identificar os brigões, por outro lado o histórico da impunidade encoraja esses atos de selvageria. O desafio também, de acordo com o ministro, é um “entendimento” com o Conselho Nacional do Ministério Público, no sentido de alinhar a presença da Polícia Militar no interior dos estádios de futebol.
A CBF, por meio de nota do presidente José Maria Marin, se diz favorável à “discussão de propostas e projetos que consigam abolir definitivamente esses episódios de selvageria dos estádios”.
Segurança “padrão Fifa”
Apesar do caso de violência, que não foi isolado na temporada de futebol no Brasil este ano, Eduardo Cardozo defende não ter dúvidas quanto à “excelência do modelo de segurança nos estádios”, a ser adotado durante a Copa do Mundo de 2014. O problema, contudo, frisa o ministro, é o aperfeiçoamento do modelo usado nos eventos nacionais: “Na Copa do Mundo, teremos um excelente padrão de segurança nos estádios. A questão que se coloca agora é fora da [época da] Copa”.
“É possível que algumas questões já avaliadas na Copa das Confederações possam ser colocadas para reflexão nos jogos dos campeonatos brasileiros. É importante que os governos federal e estaduais, Ministério Público, todos, tenhamos uma ampla discussão acerca desta questão para que cenas lamentáveis, como as que vimos em Joinville, não se repitam mais”, afirma Cardozo.
A própria presidenta da República, Dilma Rousseff, condenou a violência nos estádios e pediu paz. “O país do futebol não pode mais conviver com a violência nos estádios”, escreve a chefe da Nação em seu perfil no microblog Twitter. “Esta violência vai contra tudo o que acreditamos ser o futebol: um esporte de paixão, mas também de tolerância”, continua. Ela quer a presença da polícia nas arenas de futebol e a prisão em flagrante de torcedores comprovadamente envolvidos em atos de violência. A presidenta defende ainda que sejam criadas delegacias especializadas para cuidar de ocorrências ligadas a jogos de futebol.
“O Estatuto do Torcedor já prevê todas as penas para a prática de violência nos estádios. O que é preciso é aplicá-las, com, por exemplo, a prisão de torcedores que praticam a violência”, declara o ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Em vigor desde maio de 2003, o Estatuto do Torcedor (Lei 10.671) estabelece que compete ao Poder Público prevenir a violência nos esportes e que essa responsabilidade é compartilhada com as confederações, federações, ligas, clubes, associações ou entidades esportivas, entidades recreativas e associações de torcedores, inclusive de seus respectivos dirigentes, bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem, organizam, coordenam ou participam dos eventos esportivos.
Vídeo do YouTube mostra briga entre torcedores do Atlético/PR e do Vasco
O estatuto também prevê que cabe às torcidas organizadas manter o cadastro atualizado de seus associados ou membros, com nome completo, fotografia, filiação, número do registro civil e do CPF, data de nascimento, estado civil, profissão, endereço completo e escolaridade. Medidas que ajudariam as autoridades policiais identificar torcedores brigões.
*Com informações da Agência Brasil