Praticamente todos os brasileiros sabem quem é Luís Felipe Scolari, o popular Felipão, técnico da Seleção Brasileira que conquistou o penta em 2002, e que a partir desta quinta-feira, 12 de junho, tem a missão de comandar o time canarinho rumo ao hexa. Mas são poucos os que conhecem um sortudo ganhador da Mega-Sena, natural de Taubaté (SP), que em junho de 2009 faturou R$ 5 milhões com uma única aposta. Detalhe: ele informou a assessoria de imprensa da Caixa Econômica Federal, à época, que apostava os mesmos números há 20 anos. Um dia colheu os frutos de tamanha persistência (e fé, é claro)!
Mas o que Felipão teria a ver com o apostador de Taubaté? Felipão é um profissional que valoriza ao extremo suas convicções. Trata-se de uma virtude, sem dúvida, pois mostra que é um homem de personalidade, pouco influenciável. Em 2002, uma campanha nacional que envolvia até o presidente da República reivindicava que ele levasse Romário ao mundial da Ásia. Ele não deu ouvidos, comprou a briga e foi campeão sem o baixinho. A persistência e a fé de Felipão prevaleceram.
De volta à Seleção após a saída de Mano Menezes, Felipão, mais uma vez, comprou briga com boa parte dos cerca de “200 milhões de técnicos do país”, ao barrar medalhões como Ronaldinho Gaúcho e Kaká, além de apostar no contestado Júlio César para o gol. O Brasil conquistou a Copa das Confederações, em junho de 2013, de forma incontestável, apresentando bom futebol e goleando na final a atual campeã mundial (Espanha), impiedosamente, no Maracanã.
Ocorre que uma Copa do Mundo tem exigências que diferem das demais competições. O nível de exigência é outro. Felipão sabe bem disso. Por mais que tenha vencido a Copa das Confederações no ano passado e os últimos amistosos, considero um tanto arriscado manter a formação e o time atual da Seleção Brasileira. Sim, eu considero que em time que está ganhando também se mexe.
Sair jogando com três atacantes, por exemplo, não me parece a melhor opção. O time do mundial tem poucos meias de articulação (apenas Oscar e Willian), o que dificulta a criação de jogadas para abastecer Hulk, Neymar e Fred. Em vez do 4-3-3, com esses jogadores à disposição, eu utilizaria um 4-2-3-1, sem Hulk, e com Willian. Com essa formação, enquanto Luiz Gustavo e Paulinho se preocupam com a marcação, Oscar, Willian e Neymar vêm com a bola de trás, e Fred mantém-se como a referência mais à frente.
Essa alternativa favorece, teoricamente, a criação no meio campo e fortalece mais a marcação. Caso as coisas em campo não andem bem, é possível voltar ao 4-3-3, tirando um dos meias e colocando Hulk, por exemplo. Com três atacantes desde o início, essa possibilidade é “queimada” logo de cara.
Contra a Croácia, hoje, e México e Camarões nos próximos dias, talvez a Seleção Brasileira não encontre tantas dificuldades. Mas diante de uma Alemanha ou Argentina, mais lá na frente, o equilíbrio e a compactação do time serão providenciais.
Felipão, certamente, fará as mudanças necessárias ao longo da Copa. Irá perceber que não dá para enfrentar todos os adversários da mesma maneira. Do contrário, ele, que já entrou para a história do futebol brasileiro positivamente por ter abraçado tanto suas convicções, poderá ficar marcado negativamente, dessa vez, por não ter reconhecido a necessidade de mudá-las, enquanto havia tempo.
O sortudo de Taubaté, hoje em dia, não precisa mais apostar os mesmos números.
Felipão também não precisa apostar no mesmo time.