Eu tenho lido muitas coisas e pessoas, e tenho me admirado cada vez mais como alguns escritores estão se permitindo assumir um papel de psicólogo e “conselheiro amoroso”, quando eles mesmos estão vivendo aterrorizados por seus desamores. Saem por aí apressados dando orientação, aconselhamentos tortos e metendo o dedo na ferida do outro sem respeito algum. Isso me incomoda muito, toda hora.

Foto/Ilustração: Saulo Cruz

Foto/Ilustração: Saulo Cruz

Eu não quero que me digam o que fazer. Eu não sei lidar com pessoas que tentam fazer isso. Eu não tenho paciência pra conselhos vagabundos, então eu vou dizer o que penso: Quando encontrar no caminho alguém machucado, guarde sua filosofia pra você. Não a mande pensar em dores piores que a dela. Cada um sabe o tamanho da dor que carrega e que aguenta suportar. Você, querido leitor, não pode mensurar a dor de ninguém. Você não tem esse direito.

Não vou olhar a dor do outro e diminuir a minha. Não vou me desprezar, nem menosprezar a dor que sinto. Quem sabe sou eu do que me dói. O que sinto não é comparável ao que sente o outro. Quem tem a sua dor é quem sabe, é quem sente e é quem geme. Não me mande pensar em barrigas vazias, pessoas com fome, sem teto, doentes ou sem grana pra diminuir a minha dor. Não vou. Não vai diminuir. E isso não é egoísmo. É apenas consciência de que como ser humano eu tenho o direito de me sentir triste, de me derramar diante de minha dificuldade, de gritar ao não conseguir suportar a minha cruz. Eu tenho o direito de pensar no suicídio como solução, eu tenho o direito de reclamar a minha dor como eu quiser e não, você não irá me roubar esse direito que é único motivo pra continuar ainda aqui viva discutindo.

Foto: Paulo Ito

Foto: Paulo Ito

Não me mande guardar minha dor em uma caixa qualquer, enquanto eu observo a profundidade da dor do outro. Repito: ninguém tem a capacidade de mensurar a dor do outro. Então, não julgue, não opine, não aconselhe. Cada vez que você fala sem propriedade a um coração ferido, mas machucado você o leva a ficar. Se o que você quer é me ver no fundo do poço continue.  Se não, cale essa boca já.

Quem sabe da dor do outro é o outro. Quem sabe da minha sou eu, não você. Eu posso me descabelar até ficar careca se eu quiser e você não entra em nada. Essa dor é minha. Se nem eu sei o que fazer com ela, como você que não está sentindo vai saber? Não, não me diga. Dispenso sua opinião no momento.