Com direção de Guilherme Hunder, espetáculo traz uma referência a jovem de 13 anos Urânia Vanério (Baianinha), recém-descoberta pela historiografia por seu papel na Independência da Bahia

No dia 02 de julho de 2023 é comemorado o bicentenário da Independência do Brasil na Bahia, uma luta histórica e popular que reuniu baianas e baianos. Onde estavam os adolescentes durante essa guerra? Já ouviu falar de Urânia Vanério? A partir deste questionamento, o encenador Guilherme Hunder convida o dramaturgo Denisson Palumbo para a escrita de “Flor de Julho ”, espetáculo que utiliza este fato histórico para suscitar o conceito de LIBERDADE e falar da importância de escutarmos crianças e adolescentes

“Flor de Julho” estreia dia 08 de julho no Teatro Gregório de Matos, com temporada até 23 do mesmo mês, sábados e domingos às 16h e sessões especiais às 11h nos dias 9 e 16 de Julho, com ingressos antecipados a serem vendidos na plataforma Sympla. A dramaturgia conta a história de Maria Flor (Menike Marla), órfã que foge do Convento da Lapa com a amiga Maria Fidalga (Maria Torres), para participar dos movimentos pela independência da Bahia e no caminho recebe de “Menino Misterioso” (Gabriel Nafisi) o dever de entregar um bilhete secreto ao batalhão brasileiro que luta contra as forças militares lusitanas. O que está escrito nesse bilhete?.

No trajeto para a Vila de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, Maria Flor – personagem inspirada na história recém descoberta da jovem de 13 anos Uránia Vanério, que espalhou panfletos com o poema político “Lamentos de uma baiana” – conhece outras personagens, pertencentes a Guarda Encantada da Bahia: Boca de Afofô (Anderson Danttas), Maria Vedeta (Fernada Silva), Cabocla (Natalie Souza), Careta (Diogo Teixeira) e Perpétua (Shirlei Silva).

Hunder fala que a guarda é inspirada nas forças ancestrais e espirituais de Viva o Povo Brasileiro, obra do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro e reúne arquétipos das manifestações da cultura popular da Bahia, tais como o Nego Fugido, a Irmandade da Boa Morte, os Zambiapungas, os Encourados de Pedrão, e a Caboclagem.

“Outro questionamento que traremos é de qual independência nós estamos falando e se ela realmente existe ou existiu. Embora seja uma data cívica importante, é necessário questionar, aqui através do teatro, que liberdade é essa a qual tanto nos referimos. Assim, a montagem suscita inquietações da contemporaneidade, chamando a criança e o adolescente para o lugar de agente transformador deste tempo e dos que virão”, explica Guilherme Hunder.

Somando a fala de Hunder, Palumbo acredita que o texto é “sobre a liberdade, ‘essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique … e ninguém que não entenda’, diria uma poeta. O fato histórico é presente, ainda lutamos por nossa independência, nossa liberdade, todos os dias tem um pouco de 2 de Julho. A Flor de Julho é também sobre superar angústias, enfrentar conflitos e viver com coragem”.

A dramaturgia regata ainda alguns fatos históricos, como o episódio da Batalha de Pirajá, Além de ficcionalizar algumas personalidades deste período: o Soldado Medeiros, um referência a Maria Quitéria, o corneteiro Luís Lopes, Vedeta é uma menção ao Bando das Vedetas comando por Maria Felipa. “Importante destacar que não temos compromisso com os fatos históricos, no âmbito de uma cronologia ou reconto dos fatos, mas com os imaginários que representam esta História”, destaca o encenador.

Quanto à encenação, Hunder utiliza de dispositivos de justaposição e colagem, colocando em sobreposição o passado e o futuro. Elementos que, aparentemente não possuem afinidade, são colocados justapostos, como parte de uma engrenagem e assim constituem uma unidade. Aliamos cinema, artes plásticas, dança e música, para compor o espetáculo. A dramaturgia espiralar – aqui falo do conceito de Leda Maria Martins – traz elementos da cultura popular, mas também contemporâneos, os que integram o cotidiano de nossas crianças e adolescentes”.

Nesta poética, a musicalidade do espetáculo inspira-se na pesquisa musical da folclorista e etnomusicóloga Emília Biancardi, com composições que trazem sons tradicionais dos povos originários, bem como dos povos africanos, em comunhão com elementos musicais mais contemporâneos. Uma justaposição entre o eletrônico e o batuque, o berimbau e outros tantos instrumentos que são fruto do fluxo da diáspora africana no Brasil.

As músicas, que foram compostas por Ray Gouveia a partir das letras do dramaturgo, especialmente para o espetáculo, serão executadas por uma banda “ao vivo”, composta pelos músicos Bruno Torres, Duca Vasconcelos, Gabriel Caldas e Felipe Pires. Este último divide a direção musical com Ray Gouveia. Flor de Julho é uma realização do COOXIA Coletivo Teatral, com produção de Luiz Antônio Sena Jr. e conta com assistência de direção de Letícia Aranha e Lucas Oliveira. A direção de movimento é da bailarina e coreógrafa Dayana Brito.

Baianinha
Urânia Vanério, conhecida como Baianinha, era uma criança quando testemunhou, da janela de sua casa em Salvador, nas redondezas do Forte de São Pedro, a violência praticada pelos lusitanos na capital baiana. Ainda jovem, registrou os conflitos que assistiu e publicou um panfleto, de maneira anônima, denunciando a violência Lusitana. Recém descoberta pela historiografia, a menina é a inspiração de Palumbo para a narrativa da história de “Flor de Julho”, ascendendo a participação da criança e do adolescente.

Serviço
O Quê – Flor de Julho – espetáculo com direção de Guilherme Hunder e dramaturgia de Denisson Palumbo
Quando – 08, 09, 15, 16, 22 e 23 de julho – sábado, 16h, e domingo, 11h e 16h
Onde – Teatro Gregório de Matos
Ingressos – R$40 (inteira) e R$20 (meia) – plataforma SYMPLA (https://linktr.ee/cooxia?fbclid=PAAaYStTVJf-yV59yxAb1gxa4pBwVAlmJh6UEilvuLqCgMGz2hwG_ljBlCryo)