O single mistura ritmos regionais e traz memórias sobre a chuva no sertão

Respeitar a chuva é como um mandamento para o sertanejo. Essa e outras experiências da espera e da chegada da queda d’água no interior baiano são o tema da nova canção de Julinha, intitulada ‘Chuva de Abril’, eleita uma das 50 músicas finalistas desta edição do Festival de Música Educadora. A faixa foi lançada neste mês de dezembro em todas as plataformas digitais de streaming, junto com um registro audiovisual no YouTube.

Escrita há seis anos, a letra carrega memórias da infância da cantora, natural de Riachão do Jacuípe e radicada em Salvador. “A espera pela chuva é algo que sempre me fascinou. Essa coisa da roça, de ficar olhando para o céu, de se preparar, cobrir os espelhos, tirar as coisas da tomada, falar baixo e não conversar muito em sinal de respeito à chuva. É uma música que tem as nossas verdades, é baseada no que eu vivi”, conta.

A canção narra, também, as sabedorias sertanejas nos modos de pressagiar e celebrar a chuva, vista como sinônimo de fartura para a zona rural. A letra traz elementos humorados como o cachorro apelidado com nome de peixe para atrair água e nomes peculiares de plantas do semiárido, como Carrancudo e Gerema.

“É a caatinga, a nossa floresta branca, em sua mais bela performance, tudo feito de muita memória, como o som da Quem-Quem cantando ao longe”, referencia Julinha.

A cantora cita, ainda, lembranças como as explosões de trovões e relâmpagos no céu, que metiam medo nas crianças, mas não assustavam os adultos. “Era aquele ditado de quanto mais chuva, melhor, e ficávamos naquela vontade de ir ver os córregos, açudes, riachos, passadiços, aquele mundaréu de água atravessando a ponte, a barragem”, recorda.

Feito em parceria com o artista Jalmy, o arranjo tem um marcante compasso 6/8 que conduz a música como uma veloz corredeira até o refrão, que se derrama num gostoso xote. Com percussão de Ícaro Sá, o single mistura diversos instrumentos criando várias atmosferas durante a escuta. A música tem o selo Benzza Music, de Paulo Mutti.

Julinha

Finalista do Festival de Música Educadora 2022, Julinha começou profissionalmente como uma das vocalistas do grupo de samba junino “Samba do Vai Kem Ké”, do Maestro Augusto Conceição. A artista lançou sua carreira solo em 2022 com o single também autoral “Besta pra rir”, seguido da cativante releitura da música “Tortura de Amor”, de Valdick Soriano.

A artista iniciou seu interesse pela música aos 11 anos de idade quando aprendeu os primeiros acordes no violão e através de canções de rádio e da cultura popular da sua cidade. Dentre os ritmos, suas maiores inspirações estão no samba de roda, o aboio, o brega e o forró.

Julinha também aprofunda sua relação com a música brasileira no Bacharelado em Música Popular da Universidade Federal da Bahia, onde iniciou pesquisas sobre o samba de roda da sua terra, Riachão do Jacuípe. Em 2022, foi uma das contempladas pelo prêmio Cultura na Palma da Mão, destinado a artistas baianos.

Sobre suas metas para 2023, a cantora relata animada: “A intenção é continuar amadurecendo o meu trabalho, a minha performance e me entender cada vez mais enquanto artista. Vem álbum por aí! Um trabalho que vem sendo construído e amadurecido há anos e que reúne canções cada vez mais irmãs. Estou muito contente e empolgada com esse trabalho finalmente ganhando corpo.”