Cancelamento, tombamento, massacre midiático, memes e rejeição histórica no reality da TV Globo, Big Brother Brasil (BBB) 2021: 99,17%. Este é o legado e cenário que a rapper Karol Conká deixou/encontrou ao sair do programa televisivo, na noite de terça-feira (23). Mas o que levou a artista chegar a esta aversão? Seu comportamento de animosidade extrema ou também a cor da pele pesou? O cancelamento deve continuar no pós game ou “o que ocorre no BBB, fica no BBB”? Ela deve receber afeto ou ser punida? O psicológo, psicanalista e cientista social baiano, Adailton Conceição, fala com exclusividade ao Catado de Cultura sobre construção e desconstrução da cantora, para entender o “personagem” que ela criou ou viveu no programa.

Memes que circulam na Internet.

“Eu considero que ela foi tombada pelos comportamentos dela. Pela forma que ela tratava as pessoas, as mentiras que ela inventava. A humilhação que fez o Lucas passar, também acho que pesou bastante. Em relação a questão racial ou qualquer outra marca identitária, isso penso que nós, minorias, diante de comportamentos visto como ‘errados’, como ‘deploráveis’, temos uma punição maior. Isso a gente já sabe pela nossa experiência de vida, pelas leituras sociológicas”, diz o especialista.

Adailton Conceição, psicólogo e cientista social, concedeu entrevista exclusiva ao Catado. Foto: arquivo pessoal

Para Conceição, uma vez encerrada a passagem de Karol Conká no jogo, é a vida real que segue. “Espero que ela possa se reestruturar e aí vai ter a seleção dos que vão continuar seguindo, as pessoas que vão tomar pavor. Pois, muita gente não consegue separar a obra da artista. Eu, pelo menos, comecei a seguir ela justamente agora, porque eu vi uma sinceridade no falar (ao sair do programa), no semblante, na maneira como ela tratou a questão”, diz o psicólogo.

Mestre pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Adailton Conceição acredita que existe questões da história de vida muito além de pura lacração, nas atitudes que a cantora teve no BBB: “Tem questões do lugar que ela ocupa. Uma pessoa famosa, essa ideia da lacração do tombamento, ela se constrói a partir dessa lógica, mas tem que ponderar se isso não é história de vida mesmo, da personalidade dela, de como ela foi se construindo”.

“Ela vai se deparar com a violência em relação a família dela, com a perda de seguidores, de contratos e shows, com todos os programas falando dela. Todo impacto que foi a presença dela no espaço midiático. Então, é bom que ela tenha acompanhamento psicológico, mas muito mais que acompanhamento psi, que ela tenha um espaço de acolhimento, para que ela possa se refazer”, apontou.

 

*Foto capa: Festival Contato/Flickr cc