Primeiramente, devo dizer que não pretendia escrever nada sobre as manifestações da semana passada, no dia 11 de novembro, por um simples motivo: o que eu iria dizer já havia sido dito anteriormente por mim ou por outros e, no momento atual, acho que devemos aproveitar o nosso tempo e o dos demais com informações úteis. No entanto, ouvi algo que me fez querer escrever, mesmo correndo o risco de ser repetitivo, pois a escrita é o desabafo do jornalista. É, talvez, sua maior forma de protesto…

Por Danilo Reis*

Eu, com certeza, não fui o único a presenciar pessoas bradando que “os protestos são inúteis”, que os manifestantes eram “um bando de desocupados”. Na verdade, esse falatório não é novo. Porém, o que me irritou a ponto de ter digitado essas palavras que você está lendo foi ter ouvido, de alguém que outrora pareceu ter algum grau de lucidez, que os protestos só tinham como resultado atrapalhar o seu dia.

Foto: Mídia Lampião

Foto: Mídia Lampião

Eu seria hipócrita em dizer que as manifestações também não atrapalharam o meu dia. Óbvio que tive que mudar minha rotina, gastei mais dinheiro que o normal, levei mais tempo para chegar onde eu queria, assim como diversas pessoas. Mas, será mesmo que o meu dia é mais importante que as causas pelas quais se estava protestando?

Talvez meu pensamento seja reflexo de ter debutado em manifestações aos 15 anos, no fatídico 16 de maio de 2001. Talvez eu tenha lido livros demais sobre sociologia e filosofia. Talvez eu tenha escutado punk na adolescência além dos limites aceitáveis para manter a sanidade, contudo acho que um dos grandes fatores agravantes (e porque não um dos causadores) da situação política e social na qual estamos mergulhados é o egoísmo.

Martin Niemöller, em meio à sombra do nazismo, escreveu: “Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar”. Infelizmente, é exatamente assim que me sinto: em meio a um silêncio de quem não se importa ou não quer se importar. Não obstante a ideologia político-partidária, dever-se-ia entender as consequências de tudo o que está em curso no nosso país e no mundo. Sim, porque não se pode falar da política e economia brasileiras sem inserir a nação no devido contexto geopolítico.

Resultado de décadas de um modelo econômico que não se sustenta mais, hoje a riqueza dos 1% mais abastados entre a população mundial é equivalente à riqueza dos outros 99%. Por mais direitista que seja seu pensamento, terá de concordar que é impossível manter em equilíbrio as necessidades dos dois grupos. No ritmo em que estamos, com as desigualdades se acentuando, o confronto será inevitável. Na verdade, ele já começou. Não estou falando de luta de classes, guerra civil ou coisas do gênero; o aumento da violência é resultante desse processo. E isso afeta, sim, a todos, em maior ou menor grau.

Sendo bem sincero, acho que estamos acomodados demais, protestando muito pouco, agindo menos ainda. Eu me incluo na crítica. Como Raul já dizia, “Dois problemas se misturam, a verdade do universo e a prestação que vai vencer”. Ultimamente, tenho me preocupado mais com a segunda que com a primeira. Deveria eu estar nas ruas, na última sexta, e não trancado em um escritório. Na verdade, as ruas deveriam estar cheias de manifestantes diariamente. Entretanto, os idiotas úteis que foram até elas protestar contra o governo legítimo que sofreu golpe, agora estão adormecidos em berço esplêndido, enquanto outros, como eu, procuram desculpas entre o trabalho e o cansaço – cansaço não físico, mas de anos de enfrentamento. Aos que estavam protestando, meus sinceros agradecimentos e pedidos de desculpas. A luta está muito longe de terminar, para todos.

*Danilo Reis é jornalista.