Ubiratan Moura, 39 anos, trabalhava como transportador de melancia em Maracás (a 354 quilômetros de Salvador), no Sudoeste baiano. Conhecido como a “Cidade das Flores” e “Suíça Baiana”, o município que tem cerca de 25 mil habitantes passará a produzir e exportar vanádio, minério fundamental para a fabricação de aço.
Com investimentos de R$ 555 milhões, mineradora Vanádio de Maracás foi inaugurada na última semana
Fotos: Carol Garcia/GOVBA
Com a chegada da empresa canadense Largo Resources, a mineradora Vanádio de Maracás foi inaugurada no dia 21 de maio, o que promete dinamizar a economia do município, baseada até então na agricultura, pecuária e produção de flores. Com a implantação da companhia, Ubiratan Moura deixará as melancias. “Eu não estava satisfeito com esse trabalho. Comecei na Vanádio como auxiliar de serviços gerais e hoje sou amostrador. Minha carteira é assinada e ganho um salário que me permite dar melhores condições de vida aos meus filhos e a minha esposa”, afirma o trabalhador.
A Vanádio de Maracás é a primeira mineradora desse metal nas Américas, o que coloca a Bahia e o Brasil em posição de destaque na produção e exportação do metal. A produção será exportada para mercados da Europa, Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão.
Com investimentos de R$ 555 milhões, provenientes de uma combinação de capital levantado pela Largo do Toronto Venture Stock Exchange e financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), a planta baiana conta com o maior teor mundial de vanádio (1,34%). Os primeiros seis anos de produção já estão comercializados por meio de um acordo off take com a gigante de commodities, Glencore.
“A operação da Vanádio de Maracás posiciona o Brasil estrategicamente na produção do minério, uma vez que a produção inicial da planta corresponde a 7% do consumo mundial do mineral”, ressalta o presidente das operações no Brasil da Largo Resources, Kurt Menchen.
Nos três primeiros anos, a produção anual será de 9,5 mil toneladas de Pentóxido de Vanádio (V2O5), que corresponde a uma produção mensal de, aproximadamente, 800 toneladas.
A extração do minério será a céu aberto e o processamento utiliza, segundo o grupo canadense, as mais modernas tecnologias. “Existem poucas instalações de processamento de minérios vanadíferos no mundo e Maracás já se destaca como a mais moderna”, explica Kurt Menchen.
Empregos
Durante a construção da planta foram empregados 1,2 mil trabalhadores e as operações vão empregar 400 profissionais diretos e aproximadamente 2,8 mil indiretos, a maior parte da própria região.
A empresa informou que injeta na economia cerca de R$ 13 milhões por ano, referente à massa salarial, e recolheu aos cofres municipais R$ 4,3 milhões em Imposto Sobre Serviço (ISS), entre junho de 2012 e dezembro do ano passado.
“Depois da implantação [da mineradora] teve muita procura aqui no hotel, investimentos na cidade, o que tem tornado as coisas melhores”, comemora Maura Fróes, gerente de hotel. Na mesma linha, o produtor de flores Reginaldo Fernandes ressalta o aumento das vendas. “Está chegando bastante gente na cidade, e isso nos dá a expectativa de gerar mais empregos”.
Segundo a Largo Resources, 1,5 milhão foram usados na recuperação da estrada de acesso ao projeto, R$ 5,9 milhões em projetos ambientais e R$ 2,7 milhões em projetos sociais, como qualificação profissional, geração de emprego e renda e desenvolvimento cultural.
Sustentabilidade
De acordo com Carlos Lorenzo, gerente de sustentabilidade da Vanádio de Maracás, a planta adotou bacias de rejeito em vez das tradicionais barragens de rejeitos, o que reduziu a área de ocupação dos processos de produção. “Com isso, durante a operação, reduziremos o consumo de água em aproximadamente 375%. No cálculo inicial, antes da mudança do projeto, a estimativa era de um consumo de 300m3 por hora e agora é de 80m3”, destaca Lorenzo.
A empresa afirma que os 5,9 milhões em projetos ambientais são destinados ao monitoramento de águas superficiais e subterrâneas, da biota aquática, da flora e fauna, de poeira e gases. Segundo a Vanádio de Maracás, a recuperação de áreas degradadas com replantio de plantas nativas foi realizada em 1,5 hectare.
Como funciona
1. Toda a extração do minério é a céu aberto, o que facilita a lavra do material com equipamentos de grande porte;
2. Após a retirada do minério do solo, caminhões levam o material até o britador de mandíbulas, onde são quebradas em pedaços menores;
3. O minério chega ao britador em blocos de 70 centímetros e ao final do processamento deverão sair com 1,2 milímetros;
4. Para evitar a formação de poeira neste processo, o equipamento possui aspersores de água;
5. Depois desse processo, são adicionados reagentes químicos e o material vai para o forno de calcinação, onde é submetido a temperaturas de até 1.100 graus;
6. A produção é acondicionada em big bags e colocada em contêineres, onde é escoada, via terrestre, até o porto de Salvador, onde segue para a exportação.
Você sabia?
A cidade de Maracás tem aproximadamente 24.615 hab.- IBGE/2010, sendo que 35% da população vive na zona rural. O município está localizado no Sudoeste da Bahia, com altitude de 1.100 metros do nível do mar, e apresenta um IDH de 0,609 e um ranking de 256° e IDS de 4975,60 e um ranking de 250°.
Cidade com muita tradição nos festejos juninos, antes apelidada de “Suíça Baiana”, devido ao frio, hoje ela é mais conhecida como “Cidade das Flores”. Em Maracás você pode encontrar Palmas de Santa Rita, Orquídeas, Gerberas, além de rosas lindíssimas, que são exportadas para todas as regiões do país, gerando empregos para muitas famílias. O cultivo de mamona e o café, que outrora seriam os grandes polos de geração de renda, não têm mais grandes escalas.
Atualmente, Maracás tem como a principal geração de renda, o comércio, aposentados, os servidores municipais, os programas do Governo Federal, pecuária, agricultura, plantação de flores e a produção do mel (apicultura).