É difícil apontar uma mulher negra que não reclame da falta de opções na hora de escolher roupas íntimas que se encaixem com as características e o tom de pele de seu corpo. Vivendo sob a sombra de um conceito de beleza eurocentrista no qual os padrões de beleza se resumem a um corpo magro, cabelos lisos e pele branca, as mulheres negras sentem como ninguém o peso desta herança estética colonialista ainda presente na sociedade. Tanto mulheres quanto homens afrodescendentes precisam se desdobrar em busca dos poucos salões e marcas de roupa que fogem da influência norte-americana e europeia e caminham em busca dos traços e da origem da população negra.

Nubian Skin. | Foto: Divulgação

Nubian Skin. | Foto: Divulgação

É fácil traduzir em fatos esta discrepância, basta fazer uma linha cronológica para perceber que apenas em 1973 as negras foram “notadas” pela indústria de maquiagem. A conquista não veio de graça e só se tornou realidade graças ao trabalho de Eunice W. Johnson, que se tornou referência no mundo da moda dos Estados Unidos ao fundar a Ebony Fashion Fair Cosmetics, empresa que chegou as lojas de departamento oferecendo produtos adequados para as afro-americanas. Além disso, Eunice criou ainda na década de 1950 o The Ebony Fashion Tour com a finalidade de arrecadar recursos para instituições de caridade e promover modelos e designers negros, missão que segue viva meio século depois.

Seguindo os passos de uma das referências na moda afro, a empresária Ade Hassam fundou em Londres há pouco mais de um ano a marca Nubian Skin, que pretende revolucionar o mercado com uma linha de roupas íntimas voltada especialmente para mulheres negras. Percebendo a necessidade de afirmar o espaço da mulher negra no universo estético e a importância de produtos para o tipo de beleza negligenciado pela sociedade, o grupo chega com opções reais da chamada “cor de pele” – que por muito tempo se restringiu apenas as variações de tons de rosa. A linha conta com sutiãs, calcinhas e meias que podem ser encontrados em diversos tons e estilos e nas versões simples ou com rendas.

Para construir a ideia, Ade e seu time tiveram como uma das principais inspirações a história da ex-modelo Iman Abdulmajid, nascida na Somália e que criou uma linha de maquiagem a partir dos obstáculos enfrentados no início da carreira, quando não encontrava produtos que combinassem com seu tom de pele. “Apesar de ser uma realidade que mulheres negras têm as mesmas necessidades que as brancas, quando se trata de roupas íntimas, a indústria não liga para nós. Então, pensei, está na hora de redefinir o conceito de nudez,” explica Ade Hassam em entrevista ao blog oficial da marca.

Nubian Skin. | Foto: Divulgação

Nubian Skin. | Foto: Divulgação

Um ano após seu nascimento a companhia já se tornou referência no meio e por enquanto reina sozinha como a única a oferecer uma linha de roupas íntimas que se encaixa com o perfil das mulheres negras. Para se ter ideia do impacto da Nubian Skin basta apontar para o perfil da empresa no Instagram, que desde sua criação em agosto passado passou a marca dos 29 mil seguidores.

Para os que gostam de estar por dentro das novidades do mundo da moda, seja ele qual for, a nova linha é uma inspiração que incentiva o crescimento de uma indústria fashion mais democrática e inclusiva. A Nubian Skin nasce assim para dar um passo a mais no caminho para o fim do preconceito, trabalhando em prol da afirmação do negro e sua cultura. Um exemplo de representatividade que abraça com afinco a imensa diversidade presente no mundo.

 

*Por Sara Arlindo e Kauê Vieira/Afreaka