O Brasil perde mais uma de suas preciosidades. O poeta Manoel de Barros morreu neste dia 13 de novembro, em Campo Grande. Considerado um dos maiores autores da língua portuguesa, ele estava internado desde o último dia 24, no Hospital Proncor, da capital sul-mato-grossense, devido a uma obstrução intestinal. Segundo a assessoria do hospital, o poeta faleceu às 8h05, devido à falência múltipla de órgãos.
Conhecido pela linguagem coloquial – à qual chamava de idioleto manoelês archaico – e por buscar inspiração nos temas mais simples e banais, Barros dizia ser possível resumir sua trajetória de vida em poucas linhas. “Nasci em Cuiabá, 1916, dezembro. Me criei no Pantanal de Corumbá [MS]. Só dei trabalho e angústias pra meus pais. Morei de mendigo e pária em todos os lugares da Bolívia e do Peru. Morei nos lugares mais decadentes por gosto de imitar os lagartos e as pedras. Publiquei dez livros até hoje. Não acredito em nenhum. Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo que fui salvo. Sou fazendeiro e criador de gado. Não fui pra sarjeta porque herdei. Gosto de ler e de ouvir música – especialmente Brahms. Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço poesia”, escreveu o autor.
Barros começou a esboçar seus primeiros poemas aos 13 anos de idade. Seu primeiro livro, intitulado Poemas, foi publicado em 1937, quando o autor tinha 21 anos. Pouco afeito à política partidária, chegou a integrar o Partido Comunista Brasileiro, mas por pouco tempo. Desde a década de 1950, conciliava a literatura com a gestão da fazenda que herdou dos pais.
Perfeccionista, conquistou os prêmios literários Jabuti (1989 e 2002); Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) (2004); Nestlé (1997 e 2006); Alfonso Guimarães da Biblioteca Nacional (1996) e Nacional de Literatura, concedido pelo Ministério da Cultura ao conjunto de sua obra, em 1998. Em 2000, foi agraciado com o Prêmio Academia Brasileira de Letras, pelo livro Exercício de Ser Criança.
Os governos de Mato Grosso – onde o poeta nasceu – e de Mato Grosso do Sul – onde Barros vivia – decretaram luto oficial de três dias. Em nota, o governador sul-mato-grossense, André Puccinelli, diz que a obra de Barros divulgou as belezas e as potencialidades do estado, “enriquecendo assim, a história da literatura e a cultura do local que ele escolheu para viver ao lado de sua esposa.”
Também em nota, o Ministério da Cultura lamentou a morte do poeta e manifestou solidariedade aos parentes, amigos e leitores de Barros. “Simples, de poesia delicada e repleta de seu imaginário pantaneiro, Manoel de Barros jamais será esquecido – ao contrário do que dizem estes seus versos: “Quando o mundo abandonar o meu olho. Quando o meu olho furado de beleza for esquecido pelo mundo. Que hei de fazer.”
Nas redes sociais, o diretor da Fundação Manoel de Barros, Marcos Henrique Marques, comentou que toda a equipe da instituição está triste, mas continuará a honrar e divulgar a obra do poeta. “O homem Manoel de Barros foi finito como todos nós, mas o poeta e suas obras – pautadas em seu belo sorriso, simplicidade, amor e criatividade, vão permanecer para sempre, gerações após gerações”.
Barros costumava brincar com a importância da poesia: “Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia”. Trechos de seus poemas são frequentemente citados pela perspicácia e bom humor. Desde que foi internado, dois versos, em particular, estão sendo bastante citados na mídia e em redes sociais: “Não preciso do fim para chegar” e “Do lugar onde estou já fui embora”, ambos da obra Livro Sobre Nada, de 1996.
*Agência Brasil