Um debate no Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN), no Pelourinho, em Salvador, atraiu mulheres negras empreendedoras para trocar experiências, discutir perspectivas e sugerir ações voltadas ao segmento. Na atividade, realizada pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado (Sepromi) como parte das mobilizações do Julho das Pretas, foram apresentadas experiências exitosas na área, como a Kitaanda Bantu, da Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (Acbantu).

Foto: Secom/BA

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Ao falar do projeto, que significa mercado do povo em kimbundo, a coordenadora de etnodesenvolvimento da Acbantu, Ana Placidino, destacou o princípio da coletividade, fazendo referência ao provérbio moçambicano ‘Quem educa um menino, educa um homem. Quem educa uma menina, educa um povo’. A Kitaanda é “uma cooperativa de etnodesenvolvimento para povos e comunidades tradicionais, por meio da qual auxiliamos a montar negócios, preservando sempre suas tradições, assim como na comercialização e qualificação da produção”, explicou.

Os recursos obtidos com a venda dos produtos são utilizados para construir a autonomia de uma etnia e garantir o legado, podendo ser aproveitados para pagar as festas ou despesas de um Terreiro, por exemplo. A representante da Secretaria do Turismo (Setur), Tâmara Azevedo, abordou as oportunidades de empreender com a capoeira, que “não tem uma lógica matriarcal como o candomblé, mas não pode esconder suas heroínas, como Maria Felipa”. Muitos grupos já fabricam produtos associados à manifestação cultural, como CDs, livros, fardamentos e instrumentos.

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Há mestres que foram além, desenvolvendo centros de treinamento, com alojamento, alimentação e tantos outros serviços. No entanto, o que se tem discutido é o papel da mulher nesse cenário. “Qual o espaço da mulher na capoeira? É no jogo, na roda, na organização? O que queremos?”, questionou Tâmara. Também presente no encontro, a presidente da Associação das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivos e Similares (Abam), Rita Santos, destacou o protagonismo das baianas de acarajé, “que são as primeiras mulheres empreendedoras desse país”.

Política de Empreendedorismo

Na ocasião, foi apresentada a Política Estadual de Fomento ao Empreendedorismo de Negros e Mulheres, instituída pela Lei 13.208/14, que é coordenada pela Sepromi. “Nosso objetivo foi dividir com a sociedade o que temos de ações na área hoje e fazer um processo de escuta, ou seja, saber o que querem, suas principais demandas”, explicou a representante da comissão gestora da Política, Elisia Santos.

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Recentemente, o governo estadual formalizou parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para fomentar o empreendedorismo de negros e mulheres. Também lançou um edital para apoio a projetos relacionados à Revolta dos Búzios, com o empreendedorismo entre suas categorias. Outras iniciativas estão sendo articuladas, neste sentido, como opções de financiamento que contemplem a área. Instituições da sociedade civil que atuam com os segmentos também estão envolvidas.

“Confio no processo que está sendo construído no governo estadual para que os nossos povos possam acessar programas, sem ferir sua identidade, respeitando as nossas especificidades”, afirmou Ana Placidino. A comissão gestora da Política também é composta por representantes das secretarias estaduais de Políticas para Mulheres (SPM), de Planejamento (Seplan), da Fazenda (Sefaz) e de Desenvolvimento Econômico (SDE).

Contribuições

Representante do Empreender Étnico, Luciane Reis levantou a necessidade de mecanismos que validem os produtos fabricados pelas mulheres negras. “Ver quem possa qualificar a produção e quais são os modelos de escoamento. Precisamos é de uma política de sustentabilidade para que cada uma se desenvolva e consiga seu próprio dinheiro”. Sua página no facebook busca compartilhar dificuldades e descobertas de abrir um negócio. “A ideia é que, futuramente, vire um site onde as pessoas localizem, com facilidade, produtos de empreendedores que trabalham com causas sociais”.

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Já a produtora cultural, Jussara Santana, pontuou a importância da cultura ser entendida como empreendedorismo. Para Cristiane Conceição dos Santos, do Baraún’ Artes, que trabalha em conjunto com Luciana Baraúna na produção de brincos, pulseiras, lenços para cabelo, entre outros acessórios, o momento foi para “empoderar as mulheres negras”. Ela foi uma das expositoras da feira realizada durante o debate.

“Nosso missão agora é pensar formas de premiação, acesso ao capital, editais, desburocratização e interiorização das ações, a partir de algumas demandas aqui levantadas”, enfatizou Elisia. Também participou da discussão o coordenador de Promoção da Igualdade Racial da Sepromi, Sérgio São Bernardo.

Projeto Brasil Afroempreendedor

Nesta quinta-feira (30), às 14h, no Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, está programada uma atividade com o consultor do projeto Brasil Afroempreendedor, do Sebrae, Adilton Machado. “Será uma preliminar para afro empreendedores saberem como vai funcionar, tipos de serviços que vão ter acessos, trabalhar planejamento e formação de uma rede”.