Ganhadeiras de Itapuã, Bonecões Mamulengos, Microtrio e Paro Ano Sai Milhó foram algumas das manifestações populares, tradicionais, reunidas no “Furdunço”, movimento de retomada do Carnaval de participação popular, que tem sido fomentado pela Prefeitura desde o ano passado. Talvez, numa tentativa de resgate histórico, nestes 30 anos de axé music. Trinta entidades e artistas que compõem o Furdunço entraram no Circuito Osmar, na sexta de carnaval, para reafirmar a importância do espaço ao Carnaval de participação popular, regado à espontaneidade dos baianos, como tudo começou.
“Temos aqui a oportunidade de curtir o Carnaval ao mesmo tempo em que reafirmamos nossas raízes culturais. Estamos trazendo para a avenida referências do Zambiapunga, de Nilo Peçanha, dos Caretas de Praia do Forte e de Cachoeira através de fantasias feitas artesanalmente”, afirmou a artista plástica Luciana Müller, organizadora do Clube dos Caretas, que desfilou com o Caretrio e mais dez foliões com fantasias confeccionadas por ela especialmente para a festa.
“A Prefeitura acertou em cheio com o Furdunço. Eu mesma só estou aqui hoje porque há dois anos foi à Saltur para conversar sobre duas fantasias que ia fazer e acabei sendo convidada para montar o Clube dos Caretas”, relatou.
O mesmo espírito cultural tem a turma de Itapuã que abriu o cortejo do Furdunço. A Orquestra de Pandeiros reúne nada menos do que adeptos do Candomblé e do Hare Krishna para abrir os caminhos para a paz. Empunhando variados tipos de pandeiros, os músicos davam o ritmo para passistas que tinham no figurino a mistura entre Bahia, África e Índia.
Nas palavras da organizadora do grupo, Analu Franca, “a reunião de diversas vertentes aqui simboliza a paz, e nós queremos levar para todo o Carnaval deste ano”. Para a coordenadora de Carnaval da empresa Salvador Turismo, Merina Aragão, “o formato do Furdunço é irreversível no Carnaval”. “Foliões e artistas já descobriram as vantagens desse estilo de festa e a tendência é de cada vez ele ganhar mais espaço”, disse.
O forrozeiro Zelito Miranda estreou nesta sexta no Furdunço e se mostrava empolgado com a ideia. “Já toquei muito em trio grande, mas de oito anos para cá tenho rejeitado esse formato do grande trio porque não tem a ver com forró. Aqui no minitrio é diferente. A gente fica mais perto das pessoas, o volume é menor. O Furdunço é uma grande iniciativa da prefeitura para quebrar a mesmice do Carnaval e renovar essa nossa grande festa”, afirmou o cantor, que também se apresenta no sábado no palco de Cajazeiras e domingo no de Itapuã. Ele lamentou, no entanto, que os minitrios ainda não estejam tão evoluídos tecnicamente. “Os grandes têm potência e qualidade, mas esses menores ainda precisam evoluir, não em volume, mas em tecnologia”, avaliou.
Tecnologia de ponta
Mas para uma turma em especial tocar em miniaturas de trios elétricos não é nenhuma novidade. O Microtrio já tem quase duas décadas de Carnaval em Salvador. Ivan Houl, Cinho Damatta e Ivan Bastos, que agora tocam também com Sérgio Albuquerque, conhecem bem as dificuldades de se apresentar em meio aos gigantes do asfalto da folia baiana, mas destacam também o prazer de fazer música lada a lado com o folião. “Quando tem trio grande por perto fica difícil, mas basta uma distância de uns cem metros para a gente fazer a festa para o folião e curtir muito esse momento”, contou o baixista Ivan Bastos.
“E o Microtrio é a prova de que a evolução dos pequenos já é realidade. Completamente ecológico, equipado com um painel de energia solar para captar a energia do sol e transformar em som, com equipamentos de primeira linha. “Em volume a gente perde para os grandes, mas na qualidade do som e na tecnologia, não devemos nada a ninguém”, acrescentou Bastos.