Parecia ser mais uma manhã tranquila, quando a historiadora Ligia Santana chegou ao curso de Costura Cênica, que acontece no Centro Técnico do Teatro Castro Alves (TCA) e encontrou na porta da instituição um menino tocando violino. “Parei e ouvi uma música inteira, depois outra, me aproximei e perguntei se podia sentar? Gravei um vídeo dele e mostrei aos meus colegas de costura, todos ficaram encantados”, lembra.

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Violinista Bruno Santos

Quando todos souberam que Bruno Santos tem 10 anos, mora em Boa Vista de São Caetano, a três anos faz parte da Orquestra Juvenil Neojibá, mas não possuía seu próprio violino, começou então, uma mobilização geral em prol da compra do instrumento. Ligia convocou seus colegas do curso, amigos, parentes e foi pessoalmente, por telefone e através das redes sociais compartilhar a história do garoto, filho de D. Lindinalva Santos que trabalha na área de serviços gerais do TCA.

Seguindo a premissa do ditado popular: A união é que faz a força… Tudo correu em total segredo, mãe e filho não sabiam do que estava acontecendo nos bastidores do teatro e da internet. Em uma semana, através das doações, foi arrecadado um valor que deu para comprar  violino, afinador, terno, camisa de manga e gravata para futuras apresentações, além da prateleira para partituras.

Trajetória

Apreciadora de música clássica, D. Lindinalva, mãe de Bruno, buscava uma oportunidade em despertar o gosto do filho para esse estilo. Ao saber que haveria no TCA um Seminário para apresentar os instrumentos que formavam uma orquestra, ela o inscreveu. “Minha Mãe me deu essa notícia de surpresa, não tive tempo de escolher o instrumento. Foi uma dificuldade aprender a tocar, mas com um pouquinho de paciência e fé eu consegui”, recorda o garoto que ao término do curso foi aprovado numa audição, carimbando assim, sua entrada no Projeto Educacional Orquestra Juvenil Neojibá.

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Carisma, competência e responsabilidade fazem deste jovem uma promessa para música clássica brasileira

Sobre inspirações e referencias musicais, Bruno disse que gosta de tocar a música cubana Guantanamera, admira Frédéric Chopin e pretende ser tão  bom, quanto o músico alemão Beethoven, além de querer ingressar na faculdade de Direito. “Surgiu essa chance de ser violinista, mas também quero ser advogado para proteger os direitos humanos das pessoas”, ressalta.

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Da esquerda para direita: Ligia, Lindinalva, Bruno e André no camarim antes da apresentação

Surpresa

Ciente de tudo que estava acontecendo, o Assessor de Comunicação da Fundação Pedro Calmon, André Santana, convidou Bruno Santos para o evento Outras Leituras “Poética negra na literatura brasileira” na Sala Alexandre Robatto, que aconteceu em 10 de dezembro. Detalhe, para o jovem violinista e sua mãe, seria mais uma apresentação, eles não imaginavam que naquele dia uma surpresa estava preparada para ambos.

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Bruno durante a apresentação na sala Alexandre Robatto

De calça social, camisa de manga comprida, gravata borboleta e com o violino emprestado da Orquestra Juvenil Neojibá, ele entrou pela plateia cativando todos os presentes, naquele momento a poesia passou a ser recitada pelas notas de Bruno, que tocou e se apresentou para os participantes do evento.

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Bruno Santos ao saber da surpresa

 

Após os aplausos, Ligia Santana pegou o microfone e começou a contar que aquele pocket show de música instrumental era parte integrante de uma surpresa. Bruno e D. Lindinalva quando souberam do que se tratava e receberam os presentes, ficaram emocionados.

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Entrega dos presentes

“A força de vontade de Bruno e da mãe dele é algo admirável, eu sempre que posso estou presente, prestigiando, pois sei que ele é um talento que vai muito longe”, comenta Eva Gonçalves, que trabalha na parte administrativa do TCA e é fã assumida do jovem violinista.

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Bruno concentrado tocando para agradecer a surpresa

Sem palavras para descrever a felicidade em ter seu próprio instrumento, Bruno optou por agradecer através da música e tocou Suíte do Pescador, de Dorival Caymmi: Minha jangada vai sair pro mar, vou trabalhar, meu bem querer, se Deus quiser quando eu voltar do mar, um peixe bom eu vou trazer, meus companheiros também vão voltar e a Deus do céu vamos agradecer…

Clique e confira Bruno tocando a música cubana,  Guantanamera

Fotos: André Frutuôso/BnL