Chovia na estrada. Era madrugada de uma esquisita sexta-feira. O celular apagou do nada. Os quatro pneus da velha caminhonete furaram misteriosamente ao mesmo tempo. Os sinais de trânsito no perímetro urbano da última cidadela que passara piscavam intermitentes no vermelho, em vez do amarelo… A coisa estava feia demais. A chuva se intensificava.
As visões dos causos ouvidos na noite anterior ainda o atormentavam.
– Mulher de Branco? Isso deve ser devaneio de gente tola, que vive a acreditar em crendices, superstições e contos caipiras de assombração. O pensamento o inquietava à medida que as curvas e o breu da estrada se intensificaram.
– Não acredito nessas tolices. Insistia, na proporção que os calafrios e arrepios nos pelos do corpo aumentavam.
Uma tenra neblina começara a tomar a rodovia e a chuva já se despedia. A essa altura ele só tinha como companhia fresta da luz da lua e poucas estrelas esparsas. Volta e meia uns exemplares de raposa cruzavam a pista em frente à velha caminhonete.
– Mulher de braaanco. Vai de retro! Isso não existe. É invencionice boba de desocupados que gostam de amedrontar quem pega a estrada sozinho. Eu não tenho medo. Nem acredito, quem dirás. A paranoia era tanta que ele já comia a faixa contínua da BR.
Franziu os olhos três vezes seguidas. Não poderia ser! À sua frente uma mulher caminhava, envolta em vestes brancas, cabelos molhados. Parecia gente. Em segundos parecia um holograma. Ele se inquietara. Não quis nem saber. Reduziu a marcha do carro para aumentar a aceleração e potência do motor. Não queria pagar pra ver.
A gesticulação do sinal da cruz começara a se arredondar de tão rápida e repetidas vezes se benzia.
– CreinDeusPai, CreinDeusPai,CreinDeusPai… JesusMariaJosé, JesusMariaJosé, Vaideretro, vaideretro, vaideretro…
De repente a mulher estende a mão e acena para a rodovia pedindo carona. Ele pisa fundo e acelera ainda mais, fecha os olhos e avança. Segundos depois, abre os receiosos olhos e não mais ver tão horripilante aparição pelo retrovisor.
Um arrepio irradia de seu braço direito. Ele olha devagar, de canto de olho para a poltrona do carona. A mulher de branco está sentada ao seu lado, séria, olhos vidrados para o para-brisa, como se apreciasse a vista da rodovia.
– Valei-meNossaSenhora, Valei-meNossaSenhora, Valei-meNossaSenhora…
Todo cagado, de medo, ele descera da velha caminhonete, e voltara em disparada para a pequena cidade de onde ouvira os boatos antes de tomar três copos de café, duas doses de pinga e cinco ampolas de arrebite para dirigir noite a dentro!
Ô- Lá ela, lá ela, lá ela… Nunca mais bebo esse trem doido da gota! ô miserá!
E até hoje ninguém sabe se aquele revertério do caminhoneiro foi motivado pela visagem de uma tal Mulher de Branco, ou pelas alucinações da mistura das bebidas com a droga do sono.