Série revivendo boas histórias da estrada! Nessas férias de janeiro, o Bahia na Lupa rememora reportagens antigas de alguns roteiros de viagem por nosso imenso território baiano. Gente, lugares, comidas, costumes…
O vento empoeirado soprava forte, ar seco e quente. O sol do meio dia tostava a pele dos forasteiros. Quatro amigos da capital se aventuravam naquela peleja nas terras do sertão baiano, em busca de novos ares. Àquela altura, e quentura, só pensavam em uma coisa: queriam tomar uma cerveja gelada. Bem gelada.
– Vamos para um bar, tomar uma ‘geladinha’! Sugeriu Flávio Augusto, o mais animado.
Vera, moradora da visitada cidadezinha batizada sugestivamente de Salgadália, na região Sisaleira da Bahia, indicou um destino insólito.
– Vamos ao Bar das Folhas! Disse a moça.
A opção pareceu ótima para Vitor, primo de Flávio Augusto. Entusiasmada, Débora foi logo apressando o passo dos amigos.
– Todos de acordo? Então vumbora!
Nem todos. Rute, irmã de Vitor, ficou ensimesmada com a ideia, mas acabou acompanhando, a contragosto, o pessoal.
O Bar das Folhas foi logo sendo explorado pelos curiosos viajantes. O balcão recheado de garrafas de cachaça chamou logo a atenção de todos – menos de Vera, assídua frequentadora do bar. Ela se acostumara há tempos com aquela excêntrica exposição.
‘Comigo ninguém pode’, ‘Show da Xuxa’, ‘Angélica’, ‘Novela das Oito’… Tinham também aquelas que fazem alusão ao órgão sexual masculino… ‘Pau pequeno’, ‘Pau miúdo’, ‘Pau nas coxas’… e mais uma dúzia de diferentes ‘paus’.
– Tem cachaça de tudo que é tipo aqui! Exclamou Flávio.
A mais temida das cachaças, contudo, ficava num lugar de destaque na estante-balcão: ‘Poderosa’! Esta temida cachaça era o resultado da mistura de todas as demais, típicas do Bar das Folhas. O nome do estabelecimento faz jus aos componentes das iguarias etílicas. Estas, são fruto da junção de cachaça de alambique, artesanal, com ervas, frutas, cascas de árvores e raspas de coisas que só no sertão tem.
Dois velhos vaqueiros, de barbas grisalhas e por fazer, queimadas pelo uso diário de charutos de fumo-de-corda, esquentavam o temor à tal ‘Poderosa’.
– Bastam dois copos, para o sujeito trocar as pernas! Asseguravam com salutar experiência.
Os viajantes não titubearam. Trataram logo de sentar à mesa e pedir as cachaças com nomes bem esquisitos. Petiscos? Que nada, o povo da capital preferiu provar os caldos ‘levanta defunto’ – de Feijão e de Mocotó –, especialidades gastronômicas do local, servidos por ‘Tânia’, dona do bar – que na verdade se chama Antônia, mas para evitar que a chamem de ‘Tonha’, alcunha que considera chula, se auto-apelidou de ‘Tânia’.
Mau bocado mesmo passou Rute. Ao chegar ao Bar da Folhas, de cara amarrada, a garota bradou:
– Não quero nada, não!
Se deu mal. ‘Não Quero Nada Não’ é uma das cachaças do recinto!
Sob gargalhadas e indócil apelo dos amigos, a jovem degustou cinco copos da bebida ‘pegadinha’.
No terceiro copo, Rute já não resistia mais. No quarto, já ria. A coisa descambou de vez no quinto. A moça desabotoou a blusa e gritou:
– Achamos a mina de ouro! Acaba não, mundão!
E, brindando com os amigos de farra, não quis mais sair dali.