O bocejo matinal juntou-se ao ar insípido daquele dia nublado. Seguido de uma brisa leve que adentrou o banheiro do apartamento nascente. Trazia com ela o cheiro verde de uma frondosa árvore, guarida de pássaros diversos, de cantos mesclados, para mudar aquela sensação de manhã insossa.
Um olhar, misto de medo, apreensão e pedido de paz, chamou-lhe a atenção. No basculante do cômodo uma cena insólita o deixou intrigado.
Em meio à shampoos, condicionadores e linhas de tratamento capilar, se encaixavam galhos ressequidos levemente contornados em círculo. Um ninho. Nele, uma rolinha, de olhar avermelhado. Ela não se incomodava com o barulho ou respingos da água caída da ducha quente.
O pássaro não cantou. Preferiu a solidão de um basculante de apartamento à coletividade dos galhos da frondosa árvore. Ali, naquele lugar, entre um olhar curioso que lhe observava, a água da ducha e seu ninho, chocava, à revelia da cena, seus pequeninos ovos.