Ele franzia as pestanas enquanto se dirigia à cozinha para preparar uma boa caneca de café. A missão? Finalizar o último capítulo do livro que escrevia há uma semana, ininterruptamente. A temática da obra? As ironias e pegadinhas que a vida nos prega. Na dispensa, a última medida de pó de café extraforte. Ele havia consumido dez pacotes da bebida a vácuo desde que começou a odisseia literária de botequim. Com esmero, colocou o coador de pano sobre a caneca que ganhou na última feira do livro que havia participado – daí a inspiração para escrever…
Colocou o pó do café, despejou sobre ele a água fervente e, como num deleite de gozo, apreciou aquele aroma singular. Era a inspiração que lhe faltava para terminar o livro. Duas colheres de chá de açúcar para adoçar e uma pitada de canela em pó. Costume antigo. Mas, como numa tragicomédia de se próprio, o cansaço e ânsia para mergulhar naquele derradeiro capítulo lhes fitaram a atenção. Em vez de canela em pó, polvilhou, na última caneca de café, duas pitadas de páprica picante. Adeus último gole! Foi a ironia final da sua obra.