Ponto Final, do jornalista Mikal Gilmore, renomado crítico de música estadunidense, não se propõe avaliar conceitos e valores do turbilhão de eventos que ocorreu nas décadas de 60 e 70. Apenas os apresenta como um Forest Gump que transitou entre as celebridades. Para Gilmore, o legado do imaginário marcado por sexo, drogas e rock´n´roll não é dos melhores. Ele mesmo se confessa sobrevivente de uma era marcada por overdoses e devaneios com finais nem sempre felizes. E relata sem pruridos moralistas.
O livro é uma coletânea de ensaios que permeiam histórias do beatnik, da contracultura e do movimento hippie. Trajetórias de personagens como Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Timoty Leary, Jim Morisson, Bob Marley, Bob Dylan e bandas como Beatles, Pink Floyd, Led Zeppelin, entre outras, são reveladas em detalhes muitos deles desconhecidos por boa parte dos fãs.
Contestação, rebeldia, radicalismo e, também, a beleza, o lúdico e a utopia. Sonhos e pesadelos se mesclam. Assim se dá a fulminante poesia Uivo, de Ginsberg; a associação de Leary, o psicólogo e papa do ácido, com o movimento Panteras Negras, de quem Gilmore ouviu os últimos relatos no leito de morte; o amor cantado por Marley e correspondido à bala por gangs de Kingston; o esoterismo presente em muitas das composições do Zeppelin. Fatos que o crítico detalha com o distanciamento necessário.
O jornalista, atualmente editor da revista Rolling Stone, não se porta como fã. Longe disso. É observador das cenas expondo seus júbilos e infortúnios. E o faz com texto visceral, traduzindo o clima lisérgico, seja na Califórnia, Jamaica ou Inglaterra.
Lançado no Brasil pela Companhia das Letras há alguns anos, o livro de Gilmore, 439 páginas, é leitura obrigatória àqueles que se interessam e pesquisam cultura pop. E antes de se pretender um veredicto para estancar um tempo de loucuras e comportamentos sem limites, se propõe a entender e retratar estes momentos. Mas não explicá-los. Até mesmo porque não há um ponto final nisso tudo, vide Axl Rose e Amy Winehouse.