Hoje essa publicação não vai contar algo engraçado, não vai ensinar a fazer alguma gambiarra ou procurar soluções para mistérios que circulam na internet. Na verdade, demorei esses quatro dias processando isso tudo, afinal já se passaram vinte anos… vinte anos sem Ayrton Senna.

Desde quinta-feira (01/05), assisto todas as reprises, documentários e filmes relacionados a essa lenda. Todos sabem quem foi Ayrton Senna, falar dele é chover no molhado e chuva era com ele afinal de contas… se for para resumir, o que posso falar dele é que era um HERÓI NACIONAL no sentido literal. Com um talento e determinação só equiparados com sua humildade, vencia todos os seus concorrentes, levava alegria aos brasileiros, que na sua época sofriam com desemprego, inflação, e com a incerteza se teriam uma refeição no dia seguinte. Ele era o brasileiro vencedor, o Brasil que dava certo.

Lembro-me como se fosse ontem, e pouco antes de completar oito anos eu assisti o acidente ao vivo, nessa hora não escutava Galvão Bueno, só via os pedaços de um carro azul que acabara de se espatifar no muro da Tamburello, não consegui ver quem foi, eu só pensava “Hill, Hill, Hill…”, na esperança que ali não fosse Senna e sim seu companheiro de equipe Damon Hill, sem maldade, de forma alguma na minha mente de criança eu iria desejar o acidente de alguém, eu só queria que Senna ganhasse daquele alemão chato. Quando vi o capacete amarelo, aí a torcida mudou: era para ele sair do carro, apenas isso. Mas isso não aconteceu, meu herói estava morrendo e eu estava vendo ao vivo, mas como assim? Heróis não morrem! Por que isso está acontecendo? “Por que?” pensava eu… mas o inevitável aconteceu, como todos nós sabemos.

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A imagem que todos queriam ver naquele dia, ele saindo do carro ileso.

Vinte anos depois, isso ainda mexe comigo, quando eu penso da maneira mais otimista possível, lembro que depois disso a segurança na Fórmula Um aumentou de modo que nunca mais houve mortes, mas basta o assunto vir à tona, rever o vídeo do acidente que eu coloco as mãos na cabeça e todos os porquês dos meus sete para oito anos voltam: “Por que tinha que acontecer dessa forma?”, “Por que justo com ele?”, “Por que a corrida não foi suspensa no sábado?”, não são questões que buscam um ou mais culpados, e sim uma razão para isso tudo.

Talvez ninguém nunca há de saber essas respostas, mas uma coisa é certa: morreu o homem, mas o mito é vivo… e é ai que está a imortalidade do herói, no seu legado, nas vidas que ele salvou na pista, nas crianças do Instituto Ayrton Senna. Sempre nos lembraremos do Ayrton nas ruas de Monte Carlo, ou naquela primeira volta em Donington Park em 1993, ou então na emoção daquele GP do Brasil em 1991 que ele venceu apenas com a 6ª marcha, em que ele quase desmaiou dentro do carro depois da corrida, e mal conseguia comemorar a vitória. Sem dúvidas: Ayrton Senna do Brasil está vivo.

 

Imagens:
Senna no cockpit da McLaren: http://www.skylife4ever.com/
Pintura: “Formula Alone”, de Oleg Konin.