O carnaval de Salvador é considerado a maior festa de participação popular do mundo, pois reúne mais de 2 milhões de pessoas na capital baiana. Enquanto muitos se divertem, no entanto, os catadores e catadoras do projeto Eco Folia Solidária trabalham de maneira intensa nos circuitos da festa, para coletar os resíduos que são descartados de maneira inadequada pelos foliões.
Durante o carnaval é montado cinco Centrais de Apoio ao Catador espalhadas nas seguintes localidades: Ladeira da Montanha, Dois de Julho, Barra, Ondina e Politeama. O saldo alcançado pelo Projeto após seis dias de trabalhos foi de 1.104 catadores não cooperativados e 200 cooperativados, que coletaram pouco mais de 70 toneladas [70.101.009 – setenta toneladas, cento e um quilos e nove gramas] de materiais recicláveis: latas de alumínio, garrafas pet, plástico filme, copos plásticos, papelão, tetrapak, vidro e óleo de fritura usado.
Para Joilson Santana, representante do Complexo Cooperativo de Reciclagem da Bahia (CCRB), este ano o trabalho do Eco Folia foi muito positivo, porém marcado por alguns problemas que comprometeram o resultado da campanha. Além da chuva intensa que caiu em Salvador durante a folia… “Não tivemos em período hábil, uma estrutura montada com as condições básicas para que as Centrais funcionassem bem: energia, divisórias… Também identificamos como fator dificultador da campanha a presença de atravessadores que se instalaram próximo às Centrais, explorando os catadores ao comprar os materiais recicláveis com o preço abaixo do mercado”.
O Projeto que é coordenado pelo CCRB, está em sua 11º edição e contribui de maneira significativa e sustentável na redução dos impactos ambientais, no combate ao trabalho infantil, no fomento a economia solidária, além de remunerar os catadores pelo serviço ambiental urbano prestado. “Mesmo com os percalços e contratempos, o Eco Folia Solidária conseguiu evitar que mais de setenta toneladas de resíduos coletados fossem para os rios, mares e córregos da capital baiana”, salienta Santana.
“O Carnaval é uma festa contagiante e ao mesmo tempo excludente. No entanto, o Projeto Eco Folia Solidária promove a inclusão e valorização dos catadores de material reciclável. Nobres cidadãos que na maioria das vezes são ‘invisíveis’ à sociedade do capitalismo selvagem”, opina Andréa Frutuôso, socióloga que saiu no Araketu, um dos blocos parceiros do Projeto.
Os representantes do CCRB tem por objetivo tornar o Projeto uma ação de políticas públicas, para que a garantia de atendimento ao catador seja realizada durante todo ano, nos seus direitos básicos de saúde, habitabilidade e trabalho. A meta é garantir que os recursos aplicados no Carnaval pelo Estado, município e o setor privado sejam investidos para além de uma iniciativa pontual.
“É o meu primeiro ano que participo, gostei muito do Projeto, além de ter me ajudado financeiramente, pois sou mãe solteira, tenho cinco filhos e sou sozinha para tudo”, conta a catadora Marília Santos, que tem 25 anos e mora em Cajazeiras. Sorridente, Roque Antônio dos Santos, que mora em Valéria, ressalta que as refeições disponibilizadas nos dias do Projeto ajudam a enfrentar o trabalho árduo feito no circuito: “Aqui a gente toma café, almoça e janta e isso é muito bom”. Ele para, pensa e continua: “Ah, e ainda dá pra tirar um trocado bom nesses dias de trabalho”.