O carnaval de Salvador é considerado a maior festa de participação popular do mundo,  pois reúne mais de 2 milhões de pessoas na capital baiana. Enquanto muitos se divertem, no entanto, os catadores e catadoras do projeto Eco Folia Solidária trabalham de maneira intensa nos circuitos da festa, para coletar os resíduos que são descartados de maneira  inadequada pelos foliões.

Projeto Eco Folia Solidária

Central de Apoio ao Catador no Politeama | Foto: André Frutuôso/BnL

Durante o carnaval é montado cinco Centrais de Apoio ao Catador espalhadas nas seguintes localidades: Ladeira da Montanha, Dois de Julho, Barra, Ondina e Politeama. O saldo alcançado pelo Projeto após seis dias de trabalhos foi de 1.104 catadores não cooperativados e 200 cooperativados, que coletaram pouco mais de 70 toneladas [70.101.009 – setenta toneladas, cento e um quilos e nove gramas] de materiais recicláveis: latas de alumínio, garrafas pet, plástico filme, copos plásticos, papelão, tetrapak, vidro e óleo de fritura usado.

Para Joilson Santana, representante do Complexo Cooperativo de Reciclagem da Bahia (CCRB), este ano o trabalho do Eco Folia foi muito positivo, porém marcado por alguns problemas que comprometeram o resultado da campanha. Além da chuva intensa que caiu em Salvador durante a folia… “Não tivemos em período hábil, uma estrutura montada com as condições básicas para que as Centrais funcionassem bem: energia, divisórias… Também identificamos como fator dificultador da campanha a presença de atravessadores que se instalaram próximo às Centrais, explorando os catadores ao comprar os materiais recicláveis com o preço abaixo do mercado”.

O Projeto que é coordenado pelo CCRB, está em sua 11º edição e contribui de maneira significativa e sustentável na redução dos impactos ambientais, no combate ao trabalho infantil, no fomento a  economia solidária, além de remunerar os catadores pelo serviço ambiental urbano prestado. “Mesmo com os percalços e contratempos, o Eco Folia Solidária conseguiu evitar que mais de setenta toneladas de resíduos coletados fossem para os rios, mares e córregos da capital baiana”, salienta Santana.

Foliã e catadora no Bloco Araketu

Foliã e catadora no Bloco Araketu | Foto: André Frutuôso/BnL 

“O Carnaval é uma festa contagiante e ao mesmo tempo excludente. No entanto, o Projeto Eco Folia Solidária promove a inclusão e valorização dos catadores de material reciclável. Nobres cidadãos que na maioria das vezes são ‘invisíveis’ à sociedade do capitalismo selvagem”, opina Andréa Frutuôso, socióloga que saiu no Araketu, um dos blocos parceiros do Projeto.

Os representantes do CCRB tem por objetivo tornar o Projeto uma ação de políticas públicas, para que a garantia de atendimento ao catador seja realizada durante todo ano, nos seus direitos básicos de saúde, habitabilidade e trabalho. A meta é garantir que os recursos aplicados no Carnaval pelo Estado, município e o setor privado sejam investidos para além de uma iniciativa pontual.

“É o meu primeiro ano que participo, gostei muito do Projeto, além de ter me ajudado financeiramente, pois sou mãe solteira, tenho cinco filhos e sou sozinha para tudo”, conta a catadora Marília Santos, que tem 25 anos e mora em Cajazeiras. Sorridente, Roque Antônio dos Santos, que mora em Valéria, ressalta que as refeições disponibilizadas nos dias do Projeto ajudam a enfrentar o trabalho árduo feito no circuito: “Aqui a gente toma café, almoça e janta e isso é muito bom”. Ele para, pensa e continua: “Ah, e ainda dá pra tirar um trocado bom nesses dias de trabalho”.