Projeto é uma celebração à vida e obra da professora doutora em educação, pesquisadora do corpo em dança e intérprete soprano dramática Inaicyra Falcão

 

O corpo preto carrega em seus traços e movimentos sua ancestralidade. Corpo intérprete ritual carregado de memórias ancestrais. Corpo contemporâneo expressivo de tradições. Corpo que é voz, corpo signo do ontem, do agora e o que há de ser. Com estas pequenas orações apresenta-se o projeto OJO ODUN, uma comemoração aos 50 anos de carreira nas danças e nos cantos afrodiaspóricos da,professora doutora em educação, pesquisadora do corpo em dança e intérprete soprano dramática Inaicyra Falcão, 72 anos, que de 23 a 29 de maio ocupa o Teatro Molière com roda de conversa (23), oficina (27 a 29) e encerra com apresentação do Concerto 3 Tempos (28), show com a multiartista e convidados.

 

A programação comemorativa se inicia com o bate-papo de abertura no dia 23 de maio, às 19h, intitulado “Corpo e Ancestralidade”, inspirado em título de livro homônimo da multiartista e pesquisadora em dança Inaicyra Falcão – “Corpo e Ancestralidade: uma proposta pluricultural de dança-arte-educação”, escrito durante tese de doutorado da mesma, defendida junto à Faculdade de Educação da USP, em 1996, e é uma obra referência no meio artístico quanto educacional no que concerne a pesquisa de estudos criativos das artes do corpo a partir da herança mística afro diaspórica.

 

A roda de conversa – que é gratuita – é um transcender na dança afro-brasileira através da vida e obra Inaicyra Falcão e do coreógrafo e bailarino baiano Negrizu – mais de 40 anos de carreira, com quem a artista celebrada teve a honra de performar em 2021, em vídeo arte “Ijó Mimó” dirigido e concebido pelo artista visual Ayrson Heráclito, que integra a exposição Yorùbáiano. O bate papo contará com mediação de Nadir Nóbrega, doutora em dança e mestra em artes cênicas pela UFBA, com quem Inaicyra Falcão conviveu nos tempos do Ballet Brasil Tropical. Três artistas comprometidos com a cultura negra africana, com a tradição mística afrodiaspórica.

 

Corporalidade

Primeiro bate-papo, em simultâneo com exposição em imagens eternizadas, que deságua numa pesquisa crítica de corpos e memórias pretas. É assim o percurso da programação que tem como atividade seguinte a oficina Corpo em Diáspora, que ocorre de 27 a 29 de maio, de 10h às 14h, ministrada pela doutora em artes da cena Luciane Ramos Silva, no Espaço Silvestre (Praça da Sé – Centro Histórico).

 

A atividade corporal e presencial, propõe aos inscritos investigar motricidades, estados e movimentos relacionados à percepção de si e dos contextos ao redor. Uma imersão a camadas de história que, de alguma maneira, está atravessada pela ancestralidade dos corpos partícipes. Luciane Ramon Silva traz uma perspectiva decolonial pautada a partir das estéticas e poéticas africanas e afrodiaspóricas. Para ela, o corpo preto na dança, ou este corpo que dança, não está desvinculado da ancestralidade que carrega. Conceito em consonância com a pesquisa de corpo e ancestralidade de Inaicyra Falcão.

 

Música dos Espíritos

Por fim, a apresentação do Concerto 3 Tempos, em que Inaicyra Falcão estará acompanhada dos instrumentistas Gabi Guedes e Maurício Lourenço, no dia 28 de maio, às 20h. O show conta ainda com as performances de dança do consagrado dançarino e mestre griô Negrizu, da dançarina e pesquisadora Luciane Ramos Silva e da cantora e dançarina Nara Couto. Os ingressos que serão vendidos a preços acessíveis – R$20 (inteira) e R$10 (meia) – podem ser adquiridos exclusivamente pelo WhatsApp (71) 99921-2368 ou através de link no perfil do projeto @projetoojoodun.

 

As apresentações ocorrem nas interseções dos três tempos do repertório que compõe show de Inaicyra Falcão, que também performa corporalmente memórias ancestrais: O primeiro ato/tempo é inspirado no Negro Spiritual – estilo musical erudito norte americano “que me deixo ser influenciada para cantar os cânticos dos meus espíritos/orixás yorubanos”; o segundo ato/tempo é preenchido por canções de cantores e compositores brasileiros eruditos que trabalham com a tradição africana, como Waldemar Henrique e Babi Oliveira.

 

Por fim, o terceiro e último tempo do Concerto 3 Tempos traz um repertório consagrado de cânticos yorubás presentes no primeiro álbum de Inaicyra Falcão, intitulado Okan Awa: Cânticos da Tradição Yorubá, que teve sua estreia nos 2000, palavra yorubana que significa “Nosso Coração” e é uma obra em homenagem a sua avó Maria Bibiana do Espírito Santo – mais conhecida como Mãe Senhora, terceira Ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá.

 

Xiré Arte

Inaicyra Falcão recorda que as artes sempre estiveram presentes em sua vida, “no convívio diário do terreiro”, em casa com o pai, mais conhecido como Mestre Didi/Deoscóredes Maximiliano dos Santos – sacerdote máximo do culto aos egunguns – Alapini, artista plástico, pensador, escritor e pesquisador das culturas tradicionais de matriz africana. “O culto ao orixá me leva desde criança a ter contato com as tradições africanas, na música, dança, comida, figurino. Era tudo integrado e já aprendi assim. Lembro que criava histórias enquanto dançava nos xirês e nos palco. Sempre fui muito dramática, sempre tive um subtexto”, recorda.

 

Após passar por companhias como Olodumarê, Dança Contemporânea da UFBA e Ballet Brasil Tropical, turnês nacionais e internacionais, graduar pela Escola de Dança pela UFBA, mestrado em Artes Teatrais pela Universidade de Ibadan na Nigéria, doutorado em Educação pela USP e livre docência na área de Práticas Interpretativas pela Universidade Estadual de Campinas, Inaicyra Falcão decide no início da década de 1990 se dedicar artisticamente a música, em canto erudito. Assim como na dança, trouxe a sua ancestralidade e vivência com a tradição dos cantos dos orixás, ficando conhecida mais tarde como a intérprete que nos leva a transcendência dos poemas míticos yorubanos – os orikis.

 

OJO ODUN

Inaicyra Falcão explica que o projeto celebra cinco décadas de sua vida profissional com as artes e “comemoro o ponto fora da curva que represento: mulher, negra, artista, acadêmica, inovadora nessa sociedade etnocêntrica e ter podido abrir possibilidades para pluralidades de vozes e caminhos. Comemoro o privilégio em contribuir em outras formas de constituir conhecimento, de questionar e desmistificar estereótipos socialmente intrínsecos na estruturação de racistas e colonialistas que são invisibilizados”. Contemplado pelo Edital Setorial de Dança 2019, OJO ODUN tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.

 

Serviço

O quê – projeto OJO ODUN – Bate-papo “Corpo e Ancestralidade” – com Inaicyra Falcão e o coreógrafo e bailarino baiano Negrizu – mediação de Nadir Nóbrega

Quando – 23 de maio, às 19h

Onde – Teatro Molière

Mais informações – através de link na BIO do Instagram @projetoojoodun

 

O quê – projeto OJO ODUN – Concerto 3 TEMPOS, com Inaicyra Falcão e os músicos Gabi Guedes e Maurício Lourenço

Quando – 28 de maio, às 20h

Onde – Teatro Molière

Ingressos – adquiridos exclusivamente pelo WhatsApp (71) 99921-2368

Mais informações – através de link na BIO do Instagram @projetoojoodun