Era apenas um chá de casa nova… Era… Apenas era, pensava eu!…

Numa tranquila noite festiva, meu propósito era presentear minha amiga e me divertir, entre comes e bebes, com outros amigos. Entretanto, meu filhote, o tal “senso crítico” que não cochila e nem dorme, resolveu entrar em cena.

Tudo começou a partir do instante em que uma colega de trabalho partilhou sobre o ser mãe, mulher e profissional na atualidade. Segundo ela, os afazeres de sua casa eram feitos por uma empregada doméstica e o cuidar do seu bebê ficava a cargo de outra profissional, uma babá. Dessa maneira, podia trabalhar fora de casa. Dizia não ser fácil custear essas duas profissionais.

Foto: Metamorfose Ambulante

Foto: Metamorfose Ambulante

Creio eu que, diante das novas leis que garantem às empregadas domésticas os mesmos direitos garantidos aos demais profissionais brasileiros, manter as “secretárias do lar” tem ficado cada vez mais difícil para aqueles que podem pagar. Aqui, abro um parêntesis para alguns questionamentos: afinal de contas por que tanto tempo para que essa mudança ocorresse? Quem são essas mulheres que cuidam dos lares mais abastados? De onde vêm? Que histórias de vida trazem consigo? Qual “país” continuam carregando nas costas ou sustentado no peito?

São inúmeras as mulheres pretas ou quase todas pretas, parafraseando Caetano, que cuidam dos filhos da “mátria” mãe não gentil. Afirmo isso, porque nosso país nunca foi gentil com essas mulheres. Se a história das mulheres, em geral, é carregada de dores, a das mulheres negras, mais ainda. Fardos pesadíssimos ainda são colocados sobre as mesmas.

O que me incomodou “no só depois” ao dia do chá de casa nova (leia-se, provavelmente chá de casa branca), foi dar-se conta de que muitas mulheres brancas das classes mais altas ainda conseguem trabalhar fora – quando casadas e tendo filhos – pois têm tantas outras mulheres negras pobres que cuidam dos seus infantes. Historicamente, essas mulheres têm exercido uma função na sociedade patriarcal que mantém a estrutura ainda perversa de nosso sistema social.

A “roda gigante”, que nos engendra, tem ainda, em seu centro, o trabalho pouco reconhecido de muitas mulheres negras brasileiras que dia e noite têm exercido funções ditas invisíveis socialmente.  Sendo assim, se são essas mulheres que cuidam dos filhos de tantas outras mulheres, algumas perguntas que não calaram em mim foram: quem cuida dos nossos filhos pretos? O que acontece com eles na ausência das mães??? Como dizia a voz da rádio: vocês sabem com quem estão e o que fazem seus filhos agora?

Um espaço, talvez, se abra… Espaço de falta… de não cuidado.

Nessa falta, muita coisa pode acontecer, ainda mais quando verificamos que a figura paterna se faz ausente em muitos lares mais pauperizados, infelizmente. Sabemos que aqui e ali há outros e outras que fazem a função do cuidar, mas o que visceralmente me incomodou foi se dar conta de que, enquanto nossas mães cuidam dos filhos de outras mães, nossos “irmãos” ficam à mercê da vulnerabilidade… E aqui, deixo em aberto pra que você, leitor@ , imagine o que tem acontecido com eles… A cena se repete! Em que direção essa roda tem girado? Quem a faz movimentar? O que temos a ver com tudo isso? De alguma maneira, ela tem chegado ou chegará a você! Leiamos os sinais…

P.S: Dedico essa carta texto às mulheres “negras” guerreiras… Tomara que possam lê-la… Eis minha homenagem também a minha mãe tia de criação que, apesar de ser socialmente branca, exerceu esta função.