Se a sensibilidade do músico, talento e capacidade de ousar são os caminhos que levam ao sucesso, essa turma corajosa da Banda Vínculos vai longe. Sem pudor, reservas ou medo de errar, a molecada soteropolitana dos guetos criativos de São Cristóvão e Mussurunga, desnudaram-se da veia pujante do rock e se soltaram numa levada reggae, cheia de suingue e malemolência, de bons baianos que são. É o que se pode ouvir na nova versão da música ‘A Sua Espera’. Ressignificaram o som.

Como bônus, os apreciadores da boa música, e fãs, ganharam um clipe de altíssima qualidade, com a assinatura da pérola Felipe Varão – outro moleque que voará alta na produção musical dessa terra, com sua marca Varão Records.

Faz mais de cinco anos que esse jornalista que vos escreve acompanha a trajetória dessa banda. Do frenesi nos primeiros passos, meio sem saber ainda como fazer, mas sem dúvida alguma do que fazer, essa molecada cresceu. Esse crescimento não só na idade ou maturidade musical, mas na gestão do projeto Vínculos. Não se enganem com as caras de adolescentes. São feras.

Arrancaram, ao longo desse tempo, fãs dos lugares mais insólitos. Os meninos da periferia fazem música pra molecada dos bairros nobres – ou seria das escolas nobres? Mas também tocam pra sua galera. Os vínculos são extra estereótipos, vão além das classes sociais ou cor da pele, misturam, como é praxe da boa baianidade.

Pisaram em palcos desejados por muitos músicos tarimbados, com ‘bagagem’. Festival de Verão, Verão Coca-Cola e muito mais. Ganharam prêmio, são disputados pelas meninas, que sabem de cor suas músicas. Têm estúdio próprio. Souberam cortar, na pele, algo que poderia prejudicar o futuro do sonho. Recomeçaram. Hoje, estão mais espertos e talentosos do que nunca.

Banda Vínculos, após show em um colégio de Salvador, com os fãs. | Foto: Divulgação

Banda Vínculos, após show em um colégio de Salvador, com os fãs. | Foto: Divulgação

Danilo Fraga, Darlan Miranda, Adrian Reimão, Diego Miranda e João Vitor. Essa moçada merece respeito. É de tirar o chapéu o que eles fazem, sozinhos, sem empresários por trás – contam apenas com a generosidade de alguns amigos de toda hora e com o desprendimento que têm.

Por isso, vão longe. Na vibe positiva das ondas do reggae, do repique e contratempos precisos da batera, dos acordes e distorções afáveis de suas guitarras, da base obedientemente rítmica do baixo, da suavidade contagiante da voz. Banda Vínculos, em tempos de depreciação da música e saudosismo dos velhos tempos das boas composições na terra do axé, nos presenteia com esse belo trabalho, com essa somzeira louca e perfeita.

Vida longa a essa rapaziada. Ou, em bom baianês: ‘Êeea’, Vínculos!