A Cidade da Bahia. Cantada poeticamente por muitos artistas, esta expressão longe de ser apenas uma inspiração era a forma pela qual Salvador era chamada. Desde sua criação em 29 de março de 1549, quase cinquenta anos após o achamento do Brasil, a Cidade do Salvador da Baia de Todos os Santos apresentava suas peculiaridades como assim o descreveu o poeta e antropólogo Antonio Risério, em seu documentário Retratos de um tempo – um novo olhar sobre a Cidade da Bahia, de 2006: “A cidade que nasceu não como um produto do passado, mas como um projeto do futuro”.
Quando em 1549 Salvador foi criada oficialmente já se havia passado por um período preliminar de elaboração e planejamento. A cidade foi fundada para satisfazer a interesses da metrópole, da Coroa portuguesa. Em seu livro Uma história da Cidade da Bahia, 2004, Risério também fala desse vislumbre lusitano pela nova cidade. “Como se sabe, a Cidade da Bahia recebeu, logo depois de construída, fortes injeções reais para o seu desenvolvimento. Em 1550 e 1551, por exemplo, o rei de Portugal enviou duas armadas até à Bahia, conduzindo gente e mantimentos”.
O que nos dias atuais é feito para atrair multinacionais para a Bahia, o incentivo fiscal, nos primórdios de Salvador era feito para atrair habitantes. D. João III determinou por meio de alvará que quem passasse a morar na Cidade da Bahia ficaria livre de pagar impostos. Essas medidas garantiriam o povoamento da região e evitaria a “invasão” de índios.
Durante 214 anos – 1549 a 1763 – Salvador foi a capital brasileira e também era a aglomeração urbana maior e mais importante, por cerca de três séculos. Tudo devido a atividade portuária. A Cidade da Bahia era um importante entreposto comercial, tendo o Mercado do Ouro [hoje Museu Du Ritmo] como o principal ponto dessa atividade.
Não havia uma produção local, contudo, a atividade comercial era intensa. A cidade recebia mercadorias da Europa, África e Ásia e enviava outras para esses mesmos locais. A troca de mercadorias também era muito comum, trocava-se tabaco por negros, manufaturas por ouro e por aí vai, além do comércio intracolonial – o Rio Grande do Sul era o principal parceiro de negócios.
Foi desde o século XVII que Salvador se impôs como um agrupamento sócio-econômico, devido a esta base comercial. William Dampier frizou bem este aspecto ativo de negócios em Salvador, para ele “havia sempre demanda de capital na Bahia, fosse para financiar a colheita de açúcar, a compra de escravos, a compra de gado ou simplesmente uma casa na cidade”.
Por ter uma importante atividade mercantil, o desenvolvimento de Salvador, à época de sua fundação, teve fundamental ligação com o Recôncavo da Bahia. O Bairro da Praia, Cidade Baixa ou, como é chamado hoje – bairro do Comércio – foi onde tudo começou e era o “porto” principal para as trocas comerciais entre as cidades do Recôncavo e a capital do Brasil, à época.