Salvador é a cidade do sol. Aliás, o sol parece que tem dedicado atenção especial à cidade ultimamente. Aqui – como dizem – é verão o ano inteiro. Só que onde faz sol, às vezes também chove. Mas, aqui não pode chover não. Se chover, adeus cidade. O turista não sai do hotel, então não gasta dinheiro. A “galera” não pode ir à praia [bom, tem uns surfistas que até vão!]. Os vendedores ambulantes e camelôs [e olha que são muitos] ficam na chuva. Os estudantes e trabalhadores chegam molhados e atrasados. O trânsito para. As ruas alagam. As encostas caem, as casas desabam, os moradores ficam desabrigados, gente morre, gente fica doente.
E olha, não precisa de muita chuva não. Bastam alguns minutos e pronto: o caos reina em nossa cidade de verão. Em um domingo desses, bastou uma chuva forte de dez minutos pela manhã para que se instaurasse na cidade uma situação nada retratável em cartões postais. Encostas desabaram [mais uma vez], ruas alagaram [mais uma vez], carros subiam canteiros e meios-fios [mais uma vez] e andavam na contramão [mais uma vez!].
Há algumas semanas, a situação foi um pouco pior. Quem se arriscou a sair às ruas ou quem estava fora de casa por obrigação viu situações que pareciam criadas por uma tempestade de dias. Até quem resolveu ficar quietinho em casa teve uma “visita” nada agradável de água suja e lama.
E eis que São Pedro resolve abrir as torneiras lá em cima, novamente, neste último domingo. Só que desta vez à noite. Parece que uma espécie de paura [medo, receio] está tomando conta dos salvadorenses. Acho que estamos com a síndrome do Cascão. Não podemos ver água caindo do céu que já queremos logo correr para nossas tocas, com medo de ficarmos boiando no meio da cidade.
Tudo bem que as últimas chuvas estão intensas. Tudo bem que encostas são áreas de risco. Mas, peraê alagamento na Avenida ACM? Rios no meio da cidade transbordando? Em bom baianês: “que viajem é essa?”. Ainda vêem me dizer que a culpa é das bocas de lobo entupidas, do povo que joga lixo em qualquer lugar, desmata e que constrói onde não deve.
Admito que isso contribui sim, contudo me parece mais que é um problema de falta de ação por parte dos nossos lentos políticos. Não, não me refiro à falta de vontade política – que atravessa mandatos, governantes e legendas – em resolver problemas que existem há um bom [ou mau] tempo. Refiro-me à falta de oração. Nossos políticos esqueceram-se de rezar para São Pedro.