Série revivendo boas histórias da estrada! Nessas férias de janeiro, o Bahia na Lupa rememora reportagens antigas de alguns roteiros de viagem por nosso imenso território baiano. Gente, lugares, comidas, costumes…
Ecoturismo dentro da floresta! Lá, entre uma descida de tirolesa e um passeio em corredores ecológicos, é possível apreciar produtos artesanais feitos com coco da piaçava e conhecer a diversidade de vegetais em um sistema de plantio agroflorestal. Tudo, harmoniosamente, integrando sustentabilidade, geração de renda e preservação ambiental. Este ambiente, real, é encontrado há 56 Km da capital baiana, em um dos pontos turísticos consolidados no cenário mundial, a Praia do Forte. Mas, diferentemente das opções de lazer oferecidas pela badalada praia, a riqueza natural narrada acima é outro atrativo deste destino turístico: a Reserva de Sapiranga – uma floresta no meio do Litoral Norte baiano.
“A floresta sustentável está na essência do ecoturismo, que é uma ferramenta fundamental para se compreender e aguçar a percepção ambiental”, sinaliza Álvaro Meirelles, biólogo e coordenador técnico do Projeto Floresta Sustentável. É ele quem indica o “caminho da felicidade” para os visitantes que vão à Reserva de Sapiranga, para ter uma diferenciada experiência de turismo, ecologia e sustentabilidade. Na Reserva há sete trilhas para o ecoturista apreciar os encantos da floresta “litorânea”. A maior tem 12km de extensão – a trilha das corredeiras, preferida por quem gosta de ecoturismo de aventura; a menor, 80 metros. Para quem é mais romântico, há o encanto da trilha das bromélias.
Só de chegar à Sapiranga o impacto é grande. O lugar transpira preservação em seus 743 hectares remanescentes de Mata Atlântica, em uma Área de Preservação Permanente (APP). Para onde se olha somente se enxerga um ambiente conservado, uma floresta de fato. Restinga e manguezal completam o bioma do local. É possível encontrar na fauna da Sapiranga espécimes de bicho preguiça de coleira, mico de tufo branco, tamanduá mirim, ouriço amarelo, aves e serpentes. A flora é igualmente rica, com presença marcante de ipê amarelo, pau pombo, pau Brasil, genipapo, amescla – uma planta que está em extinção, entre outras.
Em média, por ano, cerca de 15 mil turistas passam pela Reserva de Sapiranga, tendo pico de visitações na alta estação. “O ambiente conservado é o primeiro item para cativar o visitante. Se ele chega e entende porque tem que remover um galho de um lugar para o outro, por conta do manejo, se participa desta interação, terá uma percepção maior da natureza – isto é ecoturismo”, explica Meirelles.
O biólogo conta também que é preciso levar em consideração alguns itens de segurança ao andar nas trilhas da Reserva. Apesar de não se ter registrado incidentes envolvendo animais e turistas, em 2011, o fato de estar em contato com uma floresta, sua flora e fauna, há critérios a seguir: “Andar com um pezinho atrás do outro [em fila indiana simples], nas trilhas, para não agredir a floresta” é um dos mais importantes. Antes de começar a visitação à Sapiranga, na base de apoio dentro da floresta, há um momento breve de orientações, conduzido por guias turísticos do local.
Não é difícil encontrar na Reserva turistas entusiasmados com a singularidade do lugar. “É uma coisa linda, fabulosa, encantadora… a magia quando vocêentra, o ar puro, saímos da ‘alto estrada’ e entramos numa floresta. O ambiente que foi criado, a preservação, não vemos concreto aqui, a integração com a natureza também é muito bom”, descreve, Jeferson Soares, 39 anos, consultor técnico do Setor Automotivo, deslumbrado em sua primeira visita à Reserva de Sapiranga.
“Os turistas gostam da cultura nativa, do ecoturismo aqui, e passamos a importância disto, que eles tenham contato com a natureza e possam preservar mais. É muito mais importante do que ficar somente na praia. Esperamos que eles tragam sempre outras pessoas para conhecer e aumentar a consciência ambiental”, diz Paulo Jorge Falcão Santos, o “PJ”, guia turístico de 22 anos,morador da reserva.
Floresta Sustentável
Isto mesmo, o “PJ” é morador da floresta! A Reserva de Sapiranga possui famílias que habitam em sua extensão territorial e é neste quesito que entra o projeto Floresta Sustentável – iniciativa da Fundação Garcia D’Ávila, que cuida da Reserva, patrocinada com recursos da Petrobras, que começou a funcionar em janeiro do ano passado. O projeto objetiva restaurar áreas onde a Mata Atlântica, outrora, fora degradada pela forma rudimentar de plantio em monocultura, estabelecendo o sistema agroflorestal e a policultura, capacitando e integrando os moradores locais, de forma a promover a educação ambiental e fomentar geração de renda alinhada à conservação da floresta – uma convivência sustentável entre homem e natureza.
“O Floresta vem em substituição a uma antiga estrutura que não dava suporte ao que o visitante precisa para conhecer um lugar desses”, conta Álvaro Meirelles, coordenador técnico e um apaixonado pelo projeto. Ele deixou a vida urbana, em Salvador, para morar vizinho à Reserva. E detalha: “O Floresta visa implantar um corredor ecológico, interligando a Reserva de Sapiranga à Fazenda Camurujipe. A validade disto é que este corredor foi concebido em fazer o plantio dentro da área de APP do Rio Pojuca, interligando a Mata Atlântica secundária, em Sapiranga, com a primaria, no Camurujipe, para permitir o fluxo de animais entres os dois pólos”.
O biólogo declara também que o projeto é uma solução para duas questões: o alinhamento da preservação e bem estar da floresta ao bem estar das pessoas que moram na Reserva. Atualmente, 20 famílias atuam no projeto Floresta Sustentável. Elas fazem o plantio de hortaliças comuns e especiais, frutas, tudo em harmonia com a vegetação da floresta, sob orientação dos técnicos do projeto. Uma fonte de renda para a comunidade e de sustentabilidade para o meio ambiente do lugar.
“O conhecimento nos fez sair da monocultura, especialmente da Mandioca, e mudamos a cultura, a consciência ambiental”, relata o agricultor e morador local, Nelson Paixão, apressado para voltar às suas atividades de plantio. Ele, sua plantação e a floresta fecham um ciclo de preservação ambiental que fazem do ecoturismo na Reserva de Sapiranga um atrativo singular na famosa Praia do Forte.
Artesanato
Outra forma de geração de renda para as famílias que vivem na floresta é a produção artesanal, que tem como matéria prima característica o coco da piaçava. Brincos, pulseiras, anéis, matérias decorativos para casa e escritório são algumas das peças que a comunidade da Sapiranga produz. Tudo é vendido na lojinha do Centro de Educação Ambiental do projeto Floresta Sustentável.
Rios preservados
Dentro da Reserva de Sapiranga há dois rios: O Rio Sapiranga (do Tupi Guarani, que significa olho vermelho ou olhos vermelhos d’água, devido à decomposição da vegetação no leito do afluente), nasce e desemboca dentro da própria Reserva, e o Rio Pojuca, que limita a Reserva na porção sul, possui uma parte de mata ciliar conservada e manguezal, também tem uma etapa turbulenta, com corredeiras. O Sapiranga desemboca no Rio Pojuca.
Educação Ambiental
O Centro de Educação Ambiental dentro da Reserva de Sapiranga é parte do projeto Floresta Sustentável e foi inaugurado em outubro de 2011. O espaço foi construído em madeira de eucalipto e possui sala de vídeo, duas salas de aula, biblioteca, banheiros adaptados para portadores de necessidades especiais, acesso para cadeirante,s oficina de artesanato, cozinha e loja para venda de peças artesanais, mudas e outros produtos. Moradores do lugar recebem capacitação neste centro, que também serve de base para os turistas que visitam a Sapiranga.
Ecoturismo
Para conhecer a Reserva da Sapiranga o visitante tem que pagar R$10 pelo acesso e mais R$ 20 para os guias mirins, que orientam os caminhos nas trilhas da floresta, por grupo de até 20 pessoas. Esses condutores mirins são formados pelo Centro de Educação Ambiental do Floresta Sustentável.
Viveiro de Mudas
No projeto Floresta Sustentável também há um Viveiro de Mudas como opção para os visitantes. Neste espaço existe a produção de mudas de espécies nativas da Mata Atlântica, com a finalidade de promover o reflorestamento no local, de modo participativo. Os visitantes que plantam uma muda têm seus nomes colocados dentro do Viveiro. A Mata Atlântica é uma das formações vegetais mais ameaçadas na atualidade, restando apenas cerca de 7% da sua área original.
Fotos: Cadu Freitas/BnL – Adilton Borges/Revista Oásis