Por onde passamos, deixamos marcas e somos marcados. Há sempre uma relação dialética na cultura do encontro. É com muita satisfação e realização que oferto a você, caríssima leitora e leitor, as palavras de Analídia! Saboreemos…
Parafraseando um professor muito querido: “Acho que estamos acostumados com a opressão”. Assim que o vi publicar em sua rede social, fui correndo falar com ele, que estava justamente a me enviar a mesma frase para que eu refletisse (pois o lema de sua vida parece ser provocar desequilíbrio em prol de repensarmos nossas verdades absolutas). O primeiro pensamento que me foi eliciado remonta à sala de aula, quando ainda cursava o ensino fundamental, dia em que recebi o choque de saber que após a “libertação” dos escravos no Brasil, por não terem um ofício, muitos “escolheram” prosseguir servindo às famílias brancas.
Viajando de volta à atualidade, é possível ouvir histórias de mulheres que sofrem violência doméstica, é tão habitual, quase natural, ouvir e ainda proferir críticas à essa mulher “que gosta de apanhar”, caso contrário, simplesmente, se separaria do seu marido e algoz. Simplesmente sairia de casa levando consigo seus filhos, simplesmente não se importaria com as ameaças que sofreria ao fazê-lo, simplesmente conseguiria um emprego cujo salário facilmente pagaria as contas de uma casa alugada, as refeições, as contas de água e luz, simplesmente seguraria as lágrimas quando questionada pelos pequenos sobre quando voltariam para casa, ou por que o papai não mora mais com eles, ou ainda inocentes acusações de tê-las afastado do seu querido pai e as removido de uma casa confortável, para viver numa nova e desagradável realidade.
Aos que não identificaram a ironia nas afirmativas anteriores, o “simplesmente” talvez não exista. Esconder sua sexualidade enquanto trai a esposa com alguém do mesmo sexo, porque não é aceitável para a sua comunidade assumir a si mesmo; não concorrer à vaga de chefia por receio que no primeiro erro provavelmente terá sua competência questionada por ser mulher; Não seguir seu sonho profissional a fim de corresponder às expectativas dos pais.
Conquistar a liberdade e saber de imediato o que fazer com ela é tão raro que vira notícia quando acontece [“Gari se forma em medicina”], então que nos seja permitido sempre refletir se o decreto de libertação em si, realmente, quebra todas as amarras, se o “simplesmente” realmente existe.
*Por Analídia Almeida de Souza, Psicóloga (CRP 03/13342)