Hoje, ao me banhar, fui me dando conta de que me encontro cotidianamente em vários espaços de saber. Quanto mais escuto as pessoas, mais tenho aprendido sobre grandes questões da vida que estão além-livros e, assim, enriqueço-me no sentido mais amplo da palavra. Minhas fontes de saber são: leitura dos mais variados textos, relação estabelecida entre alunos em sala de aula, conversas informais nas ruas, bares e restaurantes, participação em espaços religiosos, diálogos com taxistas e moto-taxistas, interação nos ônibus, redes sociais, escuta de músicas, dentre outros.
Nos textos que tenho publicado há sempre a autoria de muitos e muitas que passam por minha vida. Uns passam, outros ficam e tantos outros permanecem na ampliação de minha consciência alterada pela relação que fora estabelecida. Agradeço a tod@s!!!
Tempos atrás, dificilmente imaginaria que teria parte de minha existência marcada tão profundamente pela riqueza e sabedoria das relações humanas. Duas Instituições me facilitaram a constituição desses laços tão significativos, foram elas: a Igreja Católica (principalmente por meio da inserção no Grupo de Canto, Catequese, Grupo de Jovens, Renovação Carismática católica, Equipe de Liturgia e vivência de dois anos no mosteiro) e a Escola – desde as séries iniciais, passando pelo ensino técnico no CEFET-BA, UFBA e FTC, até a pós graduação agora findante. A Igreja sempre foi meu território afetivo e de construção de sentido na existência, uma de minhas âncoras. Foi neste espaço que descobri, com muito trabalho, que eu tinha talentos.
No início da adolescência, eu era alguém que não se percebia muito possuidor de habilidades e qualidades. Ao escutar e ler a “parábola dos talentos”, por exemplo, me sentia atravessado por um mal-estar e incômodo que era a constatação, naquele tempo, de não possuir talentos. Lembro que não compartilhei os meus sentimentos com ninguém. Apenas senti, ressenti… Hoje, entretanto, via escrita, reelaboro, ressignifico e reedito!
A ideia central, a meu ver, presente na parábola é de que todos nós possuímos dons e talentos que podem ser desenvolvidos. Talvez o nosso maior dom seja a possibilidade de desenvolver dons. A cada um foram dados talentos, relata o texto bíblico, para serem bem administrados e cada sujeito deveria prestar conta dos que receberá. O detalhe era: a cada talento dado, haveria de se ter uma “multiplicação” dos mesmos. Para além da dimensão monetária, a parábola dos talentos bem serve como metáfora do que nos somos e de nossas vivências.
Todos nós somos talentosos, apesar de muitos não se reconhecerem como tal. Por vezes, é apenas através dos outros, que nos são significativos, que conseguimos reconhecer que possuímos grandes pérolas ainda não lapidadas.
Cada ser humano, a depender de sua história de vida, época, contexto, grupo social e classe social, vai desenvolvendo ou não aquilo que é parte do legado deixado pela humanidade por meio da cultura. Para muitos, entretanto, há poucos espaços de acolhimento para a construção e desenvolvimento desses talentos. Talvez a vida seja esse eterno movimento de afetos e afetações que vai nos tornando o que somos. Um movimento dialético sempre perpassa a nossa existência.
Talvez, agora pensando, a minha escolha profissional seja marcada por um profundo desejo de fazer com que as pessoas, que por mim passam, possam desenvolver o melhor que há em si, desconstruindo as imagens negativas de si mesmo que foram tecidas no decorrer de uma história. Sabe de uma coisa, eu gosto é de pessoas… Multicoloridas, mesmo ainda cinzentas… Falo isso com muita convicção, pois o que hoje sou é também efeito de todos aqueles que passaram por minha vida e reconheceram e fomentaram em mim talentos, (re)tocando-me com suas cores e pincéis. Sendo assim, como forma de gratidão, quero continuar a semear, pintar e regar talentos!!! Ser psicólogo, professor, músico amador, cientista social e, no fim das contas, humano com sensibilidade, talvez seja uma frutuosa oportunidade que me foi dada, pela vida, de transformar e afetar!!!
P.S: Se você quiser, car@ leitor@, conhecer ou aprofundar a leitura, leia o evangelho de São Mateus, Capitulo 25, versículo 14 a 30(Mt 25, 14-30).