“Benção pra quem é de benção… Axé!”… A Indumentária, a reverência, a religiosidade nagô e a ancestralidade africana se fundem e recriam um singular cenário, resultado da reunião de diversas lideranças de religiões de matriz africana que, da institucionalidade baiana, oficializaram convênio para reforma e revitalização de terreiros de candomblé em Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari, Cachoeira e Maragogipe. Numa ironia histórica, o Estado, que outrora perseguia essa religiosidade afrobaiana, destina décadas depois recursos fruto de políticas públicas, cujo conjunto de intervenções totaliza R$ 4 milhões em investimentos.
“São matrizes fundamentais na formação do povo brasileiro e por isso temos o dever de reconhecer a importância dos terreiros para nossas tradições e cultura”… Com um pano africano, que lhe fora ofertado, o governador da Bahia, Jaques Wagner, após a afirmação assinou a ordem de serviço para as obras, com representantes da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA) e da Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (AcBantu), em ato ocorrido no Salão de Atos Baianas de Acarajé, na Governadoria, no Centro Administrativo (CAB), na quinta-feira, 15 de maio. Foi autorizado ainda o início do processo de licitação para obras de instalação de equipamentos no terreiro Ilê Axè Opó Afonjá, na capital baiana. De acordo com o governo, a assinatura do documento garante os recursos para a execução da terceira e quarta etapas, do total de seis, da parceria entre a Acbantu e o Governo do Estado. Aproximadamente 24 terreiros, que compõem a entidade, já foram contemplados pelo projeto e mais 28 estão em reforma.
Após saudações religiosas, Raimundo Nonato – Taata Konmannanjy , presidente da AcBantu, defendeu que a ação “se coloca na questão da preservação do patrimônio material e imaterial inseridos no conceito de povos e comunidades tradicionais, que vem sofrendo sem essa valorização”. Já Leonel Monteiro, presidente da AFA, as intervenções vão além da melhoria da estrutura dos terreiros: “Preservando a estrutura física desses espaços vivos de memória, onde aprendemos todo o legado deixado por nossa ancestralidade através de saberes e fazeres passados por meio da oralidade, temos a oportunidade de manter esses ritos perpetuados”.
A parceria do governo com a AFA projeta contemplar mais 10 territórios culturais de matrizes africanas. A ordem de serviço, segundo o governador do estado, tem o objetivo de atender a demandas históricas dos representantes das religiões de matrizes africanas, referentes à reforma e conservação de terreiros, importantes patrimônios culturais baianos. No total, os convênios contemplam 64 terreiros com obras de recuperação de telhados, instalações elétricas e hidráulicas, ampliação de estrutura física, delimitação de terrenos e contenções.