Acordei um pouco mais tarde hoje. Primeiro, porque o meu horário de trabalho, ao menos nos últimos meses, começa às 14h e se estende pela noite. Segundo, porque tenho tomado um medicamento, antes de dormir, que prolonga o sono. Por essas razões não conseguia entender direito o que estava acontecendo na manhã desta terça-feira, 29 de novembro.
Peguei o celular. Observei que um grupo de whatsaap de que participo, o Galicianos Verdadeiros, tinha o avatar escuro, o que indicava luto. Pensei, logo de cara, que alguém do Galícia partira. Também havia uma mensagem de áudio para mim. Era o diretor e criador do Bahia na Lupa, Carlos Eduardo Freitas, me pedindo que escrevesse algo sobre a tragédia envolvendo a Chapecoense. Que tragédia? Perguntei-me.
Do Whatsaap para o Facebook e do Facebook para a televisão, comecei a entender o que acontecera. E o que eu posso escrever diante de tudo o que está sendo escrito, sem chover no molhado? Lógico que a queda do avião que transportava 81 pessoas para Medellín, onde a Chapecoense, brava equipe de Santa Catarina, enfrentaria o Atlético Nacional, da Colômbia, pela final da Copa Sul-Americana, é uma das maiores tragédias da história do futebol mundial. São pelo menos 75 mortos e 6 feridos, segundo as últimas informações. Entre as vítimas, jogadores, comissão técnica, dirigentes, jornalistas e tripulantes.
A Chapecoense vivia o melhor momento de sua história de 43 anos. Modelo de organização e planejamento no futebol brasileiro (algo raro), o clube do interior de Santa Catarina conseguira se manter mais um ano na primeira divisão do futebol nacional, depois de ascender a partir da série D. Mais do que isso: chegara, pela primeira vez, na grande final de uma competição continental, a Copa Sul-Americana, onde enfrentaria o glorioso Atlético Nacional, na Colômbia, nesta quarta-feira, pela partida de ida. Decidiria o título no Brasil, portanto, uma semana depois.
Torcedores de praticamente todos os clubes brasileiros já simpatizavam com a Chapecoense, chamada carinhosamente de #ChapeTerror, devido ao fato de aterrorizar os adversários em campo.
E agora, justamente agora, essa tragédia… E o que dizer dos colegas jornalistas que estavam no mesmo voo para trabalharem no jogo de Medellín? Quantos sonhos desperdiçados? Entre eles, Mário Sérgio, o “Vesgo”, hoje comentarista da FOX TV – um verdadeiro craque nos anos 70 e 80, quando desfilava sua habilidade com a perna esquerda nos gramados do Brasil e fazia a alegria dos torcedores de Internacional, Grêmio e Vitória, entre outros tantos. Que tristeza.
De tudo isso, apenas a certeza de que a vida é muito frágil. Por isso, meu amigo, minha amiga, não se incomode por pouca coisa. Amoleça o coração, peça desculpa sempre que possível e permita também que se desculpem com você. Contemple bem o pôr do sol e o clarão da lua. Como dizia meu velho avô: “não deixe para amanhã o que pode fazer hoje”.
A vida, essa coisa extremamente frágil, não combina com adiamentos.