A verdade é que todos lhe dizem que você deve se levantar e lutar. Que deve vestir sua roupa de viver e sair por aí buscando novas oportunidades. Que a gente deve cair sete vezes e levantar oito, mas ninguém nos ensina como fazer isso. Ninguém quer se abaixar pra segurar a nossa mão e nos tirar do chão. Ninguém, absolutamente ninguém, fará esse trabalho por você. E nem você está conseguindo. E agora?
Ninguém diz como é que se levanta do buraco. Ninguém informa qual o nome do remédio que você deve tomar. Ninguém passa uns dias com você te levando a um médico, acompanhando você até que se recupere. Ninguém cura a sua ferida.
Terá várias pessoas pra reclamar e dizer: – Levante-se, seu molenga! Mas ninguém te ajudará a cicatrizar nada.
E como é possível descobrir sozinha? Como posso fazer para parar de sentir dor se pra coração quebrado não há anestesia? O que eu faço? Quem me diz? Eu preciso do medo pra conseguir ter coragem, mas nem medo eu consigo sentir agora. A dor comeu tudo como bactéria instalada.
Quem explica que não posso mais continuar caminhando? A quem posso contar que não consigo mais dar nenhum passo? A quem eu posso recorrer porque só penso no fim? A quem eu devo pedir ajuda? Todos estão cuidando de suas próprias vidas e não há nada que se possa fazer. Ninguém vai parar a vida pra te ajudar a passar por isso. Escute bem o que eu digo: NINGUÉM SE IMPORTA.
E ainda que eu esteja errada, a verdade é que ninguém se importará o suficiente a ponto de parar a vida pra te reerguer. Não vai. Cada um com sua vida, seus problemas, suas histórias, suas dores. Não é maldade, não. É sinceridade. O tempo é curto e cada um tem a sua própria vida pra cuidar. Suas próprias desilusões.
Essa dor é sua, só sua. Ela não te abandonará. E mesmo que tenha sido causada por outra pessoa, é você quem a guardará no peito. É você quem vai sentir. Não sei quanto tempo sua dor vai durar, mas escute o que eu digo: não vai passar tão cedo. Você só precisa saber a verdade o quanto antes. Isso não é uma maldição. Isso é uma verdade.
A sua dor não vai embora amanhã, nem depois. Ainda vai durar um tempo pra cicatrizar, pra curar o que feriu bem lá no fundo. E não há nada que alguém possa fazer para ajudar, nem mesmo você. Calma. Não se desespere. Escute: O único capaz de ajudar é o tempo. Sim, o tempo. Mas não será como você quer. Ele virá lentamente fazendo sentir o peito dilacerando, rasgando. Ele virá sem pressa e brincará com o seu sofrimento, mas ele virá. E um dia após o outro, ele vai cuidar de você e dar uma nova chance. Só ele pode.
Só não tente tripudiar em cima dele ou manipular. Deixe-o agir, deixe-o passar. Sobreviva aos dias que ele te dará. Sobreviva as horas, aos instantes, as lembranças mais gostosas, as mágoas, a angústia, a solidão, sobreviva de qualquer jeito. Ainda que a ferida não se feche nunca, você acostumará a viver com ela, assim como o corpo acostuma e absorve um pedaço de galho de árvore que entra no pé. Aos poucos você irá desapegando da lembrança do ferimento e vai conviver.
No início vai incomodar muito, mas depois você não sentirá mais. O corpo absorve. Entenda isso: o corpo absorve mesmo o que causa dor.
Deixe apenas o tempo agir sobre cada ferida e faça a sua parte sobrevivendo.
No início você não conseguirá caminhar, mas não fique parado. Quando não conseguir caminhar, se arraste. Só não se entregue a dor e ao delírio que ela trará. Porque sim, ela trará. E cuidado para não enlouquecer rápido demais. Continue tentando ficar consciente, acordado, se mexendo. Não se permita enlouquecer de uma só vez. É difícil, quase impossível, mas eu acho que você conseguirá. Apenas concentre-se. Não tem outro jeito. Não tem outra forma. É um dia após o outro.