O relógio marca 10h23, em meio a um sol a pino e uma fila enorme, nas imediações da Prefeitura de Salvador. O semblante das pessoas é de impaciência, afinal, só duas cabines do Elevador Lacerda estão em funcionamento (para variar). Nesse cenário, uma voz ecoa pelos quatro cantos da praça Thomé de Souza, repetindo o seguinte bordão: “Olha o picolé, só paga R$1”. Andando de um lado para o outro, vestindo short curto, camiseta regata, de tênis, batom vermelho, óculos escuros e com seu isopor rosa, Melissa Teles vende sua mercadoria.
Com personalidade e ousadia, a mineira de 22 anos deixou o emprego de enfermeira na cidade de Montes Claros e decidiu se mudar para a capital baiana no dia 1º de outubro de 2013. “Lá em Minas eu estava bem sucedida, dois plantões, tinha meu apartamento já montado e tudo bem articulado, mas pela televisão eu já ficava encantada com o Carnaval de Salvador e, após conferir de perto este ano, decidi morar aqui”, conta.
Após se arrumar e preparar o “look”, Melissa sai de casa para o trabalho às 8h e segue direto para a Sorveteria Nazaré, onde compra os picolés para revender. Ela chega a trabalhar entre 4h e 6h por dia e consegue vender, em média, de 100 a 200 picolés. Segundo ela, por mês, é possível ter uma renda que varia de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil. “Eu optei por vender picolé, pois agrada a todas as idades e todos podem comprar”, comenta Melissa.
“Ela é esforçada e corre em busca de seus objetivos, tem força de vontade, competência e disciplina , afinal, se não trabalhar a gente não vence, temos que ter objetivo de vida”, salienta Gilberto Souza, dono da Sorveteria e responsável por orientar Melissa na venda de picolés.
Um detalhe que faz parte do dia a dia de Melissa é a desconfiança dos clientes quanto a sua profissão. Muitos acham que ela não é uma vendedora de verdade, que se trata de uma ‘pegadinha’ ou algo assim. Durante a jornada de trabalho também há vários assédios, que vão desde oportunidades de emprego até outros mais ousados. Ao ser indagada sobre a vida amorosa, depois de uma longa gargalhada, ela responde: “Estou em carreira solo, com algumas participações especiais”, brinca.
Para o guia de turismo Sérgio Manoel, as mulheres ganham cada vez mais espaço na sociedade e desempenham funções que antes só os homens realizavam. “Outro dia eu passei pela rua e vi uma mulher trabalhando em um obra, cavando buraco. Nosso país tem como presidente uma mulher, então hoje elas estão em todos setores”, pontua.
Segundo Melissa, sua maior motivação para residir em Salvador foi a oportunidade de estar mais próxima da cultura baiana. “Eu queria conhecer mais pessoas, viver a praia, a arte e a música… A enfermagem me ensinou que precisamos viver os nossos sonhos enquanto podemos. Quando eu chegar a minha velhice, quero ter histórias boas para contar, não quero ter uma vida desperdiçada, quero ter feito o que eu queria fazer .” Por fim, ela completa: “Estou em Salvador para realizar meus sonhos e projetos. Não vim para ganhar dinheiro, eu vim para ser feliz “!!!
Assista ao vídeo da entrevista de Melissa Teles
Fotos: André Frutuôso/BnL