Galícia possui cinco títulos estaduais e muito história no futebol da Bahia; O time garantiu acesso à elite do Baianão nesta temporada
Numa época na qual o futebol tateava em busca do seu lugar ao sol como esporte de peso, os goleiros usavam boinas e as chuteiras eram quase botas de couro, nascia um time com pretensões de campeão. No dia primeiro de janeiro de 1933 foi fundado o Galícia Esporte Clube, time da colônia de espanhóis que residiam em Salvador. Eduardo Castro de la Iglesia, dono de uma alfaiataria, e seu amigo, Jose Carrero Oubinã, tiveram a ideia de criar o clube. Em 2014 o azulino celebra 81 anos de existência e o regresso à elite do futebol baiano, após 15 anos desde a queda para a segunda divisão, em 1999.
“Será realizada amanhã, no elegante campo de Brotas, uma linda festa esportiva dedicada à colônia espanhola residente nesta capital”. A manchete em destaque, veiculada no extinto periódico Diário de Notícias, em 08 de maio de 1933, se refere ao festejo de estreia do Galícia Esporte Clube.
Oitenta anos depois, em 13 de julho, garantiu o acesso ao vencer o Flamengo de Guanambi por 4 a 1 e se classificar para a final do Baianão 2013. Na final, venceu a Catuense nos jogos de ida e de volta, pelos placares de 2 a 1, em 20 de julho, e por 2 a 0, em 27 de julho, quando se sagrou campeão da Segunda Divisão do Campeonato Baiano.
Herói do acesso
“O jogo estava franco, ataque dos dois lados, eu estava me poupando para dar uma arrancada final. Consegui arrancar com a bola do meio campo, aos 49 minutos [do segundo tempo], toquei para Alemão na lateral e me infiltrei na área, ele ergueu a cabeça, me viu, lançou e eu consegui dominar. Fiz um giro que até hoje, confesso, não sei como consegui e marquei o gol. Depois desabafei e não vi mais nada. Foi o gol mais importante da minha vida”, a narração é do atacante do Galícia, Diego Higino, que marcou o segundo gol azulino no clássico contra o Ypiranga, no dia 29 de junho, no Jóia da Princesa, em Feira de Santana. Com a vitória por 2 a 1 o time garantiu vaga nas Semifinais.
Higino lembrou que a campanha do acesso foi árdua e repleta de dificuldades. Jogador revelado pelas divisões de base do clube, desde 2006 tentava elevar o Galícia de volta à Série A do Baianão.
“Esse ano entrei num grupo que vai ficar marcado em minha vida, estava muito unido e conseguimos o acesso”, lembra. Para ele, que considera futebol algo “bem simples”, se a equipe continuar unida, focada, e a Diretoria do time conseguir trazer reforços, o clube tem chances de voltar a ser grande.
Estratégia de primeira
“A torcida gritava: ‘o Demolidor voltou, o Demolidor voltou’… Isso foi marcante”, conta o diretor de Comunicação do Galícia, Beto Boullosa. Pé quente, ele recorda que quando saiu da Bahia, em 1998, o Galícia estava na primeira divisão e, depois de voltar em 2012 e ingressar na diretoria do clube, em 2013, viu seu time de coração regressar à elite: “O Galícia está de volta ao lugar dele”!
Boullosa rememora que o caminho até o acesso foi longo. A escassez de recursos financeiros, a falta de patrocinadores e a ausência de torcedores associados foram as principais dificuldades. Mas a força da torcida, o trabalho de união da diretoria, comandada por Dario Rego, e o apoio da colônia espanhola foram essenciais, na opinião do diretor, para o sucesso do time nesta temporada.
Para 2014 há o “desafio de jogar um campeonato curto e desigual”, pois Bahia, Vitória e Vitória da Conquista só entram na segunda fase, mas com um trabalho estratégico, uma etapa após a outra, o dirigente acredita que o clube pode ser bem sucedido. “O objetivo principal é se estabilizar, se manter na elite, mas queremos também passar de fase, voltar a jogar contra Bahia e Vitória”, planeja.
Década de 1930, nasce o azulino
Em 1933, ao ser fundado, o Galícia tinha a missão, implícita, de, além de cumprir o papel em campo e jogar bom futebol, ser um ponto de convergência para estreitar os laços amistosos entre baianos e galegos, como eram chamados os espanhóis.
O primeiro título baiano do Galícia veio em 1937. O time campeão era formado por De Vinche, Bubu e Bisa; Ferreira, Vani e Walter; Dedé, Servilho, Vareta, Bermudes, Palito e Moela. Na sua trajetória, o Galícia conquistou o Tri-campeonato Baiano, nos anos de 1941, 1942 e 1943, além de conquistar os vice-campeonatos de 1935, 1936, 1938, 1939 e 1940. Voltou a ser campeão baiano em 1968, e ainda foi vice em 1967, 1980, 1982 e 1995.
O azulino alcançou notoriedade e ganhou o apelido de “Demolidor de Campeões”, colocado pelo jornalista de A Tarde, Aristóteles Gomes. À época, cartolas baianos tentaram ofuscar o brilho inquestionável do clube. O Esporte Clube Bahia queria uma “melhor de três” contra o Galícia, na final do Baianão de 1941. O azulino não concordava, pois tinha quatro pontos à frente do tricolor na tabela.
Depois de muita confusão e indefinição o Campeonato Baiano de 1941 encerrou no dia 25 de fevereiro de 1942, tendo o Galícia proclamado Campeão Baiano. Anos mais tarde, em 1995, o Galícia chega a mais uma final do Baiano. Desta vez perdeu para o Vitória e ficou com o vice-campeonato.
Em 1999, ano pitoresco para o futebol baiano, não houve jogo na final. O Bahia foi para a velha Fonte Nova e o Vitória, para o Barradão. Inacreditavelmente ambos foram considerados campeões pela Federação Baiana. Já o Galícia, foi rebaixado à segunda divisão.