Por Curiando o Rolé

Quem disse que a fitinha do Senhor do Bonfim só pode ser usada para amarrar no braço e para colocar no gradil da Igreja do Bonfim? O item é uma forma dos baianos falarem da sua origem, da fé e da relação com a cultura. Foi por causa desse pertencimento que Delva Brito levou inúmeras fitinhas para a sua peregrinação no Caminho de Santiago de Compostela.

Foto: Divulgação



“Eu sou baiana e como toda boa baiana, a gente cultua o Senhor do Bonfim, a Igreja do Senhor do Bonfim, os mitos que circulam em torno da Igreja do Senhor do Bonfim. A fita do Senhor do Bonfim é um dos elementos que compõem essa cultura de frequentar a Igreja e cultuar Senhor do Bonfim”, explica.

Durante a caminhada, sempre que parava para fazer uma oração, amarrava uma fitinha em um marco do caminho. O ritual chamou a atenção dos outros peregrinos que entenderam a fitinha como um presente que ela deixava para os que vinham depois. Mas isso ela só descobriu depois de algum tempo de caminhada.

Foto: Divulgação



“Uma paulista que também estava fazendo o caminho, me disse assim: que bom que você colocou as fitinhas do Senhor do Bonfim pelo caminho. Todas as pessoas, os caminhantes, os peregrinos que passavam, você deixava a fitinha, as pessoas pegavam. Todo mundo achou que você deixava a fitinha para cada um pegar”, conta.

O que inicialmente era um momento individual, espalhou-se e marcou pessoas de várias partes do mundo. “O meu ato de fé gerou a crença dos outros. Os outros acreditavam que aquele símbolo era importante para mim e que eu estava deixando para eles. Quando eu chegava no próximo albergue estavam todos com a fitinha. É gente do mundo inteiro da África, da Austrália, dos Estados Unidos….”.

A história está registrada no livro: “O caminho de Santiago de Compostela: Diário de uma peregrina em busca de fé”, um registro diário de viagem, redigido em texto leve e descritivo, que permite ao leitor acompanhar os lugares por onde a autora passou. Os registros da viagem estavam há anos guardados e Delva aproveitou o isolamento gerado pela pandemia da Covid 19 para rever o diário e transformá-lo em livro.

Foto: Divulgação


A viagem foi o modo que a professora universitária encontrou para viver o luto da morte do filho, que faleceu com 20 anos, em um acidente. “Queria caminhar. Caminhar a gente vai rumo ao desconhecido. Eu queria caminhar, caminhar… porque eu estava em um momento de muita dor e muita perda”.

O livro reúne reflexões sobre a fé e a vida e ainda fala das amizades construídas no caminho. Foi um processo de autoconhecimento da autora que também inspira o leitor a mergulhar no seu eu. A publicação pode ser encontrada em versão digital na Amazon. Valor R$ 33.