Noite de quarta-feira, quase quinta, após mais um dia de trabalho eis que me recolho ao meu quarto para tentar algo parecido com dormir (creio que Morfeu não vai muito com a minha cara). Na televisão predominam o futebol, me resigno a assistir mais um clássico da Copa do Brasil, Esporte Clube Vitória x Mixto (grafado com x mesmo), na esperança de Morfeu se apiedar de mim e eu levar para seus braços, sou brasileiro e não desisto nunca…

Depois de alguns minutos, que justificam o motivo do nosso futebol não ser mais líder de audiência e muito mesmo do ranking da FIFA, a sonolência começa a invadir meu corpo e mente. Sinto que minha estratégia foi acertada e Morfeu finalmente resolveu-me aceitar como devota. Relaxo e espero que nosso encontro no quase já seja madrugada para mim, nada de insônia hoje, penso e, esperança, fecho, os olhos.

De repente algo se choca ao vidro da minha janela no 14º andar e despenca no chão, o barulho me desperta (Morfeu vai ter que eu esperar mais um pouco), vou em direção ao, ainda objeto não identificado e então nossos “olhares” se encontrar. Ela de forma desafiadora levanta suas antenas para mim, fico ridiculamente e de forma quase inédita paralisada. Olho para os pés analisando o estrago que meu salto pode fazer isso ser e então constato que estou descalça, imóvel e intimidada por alguns centímetros de antenas, asas e casca.

Coloco meu músculo intracraniano para funcionar e pego meu chinelo com toda propriedade de quem vai exterminar o inimigo, avançar em sua direção e atiro sem piedade. Nada acontece, percebo que pegou apenas de raspão e meu “rival” com antenas em riste se para outro lugar do quarto. Sinto-me desafiada, corro até a cozinha e começo a escolher minhas armas, vassoura, rodo, pá e um saco plástico (nunca se sabe o queremos nos livrar).

Armas em punho volto ao campo de batalha pronta para atacar, primeiro vassoura, depois rodo e finalmente a pá, nada acontece além de um jogo de cão e rato entre meu desafiante e eu, cansado irritada, irritada e suada, suspiro… Não posso vencer a inimigo mas não me juntarei a ela, penso e resignada saio do quarto e o deixo para sua DONA, reconhecendo que perdi a batalha, mas não a guerra.

Acomodado no sofá da sala e reavivando todo o meu parco conhecimento de mitologia imagino se Morfeu, não quis me pregar uma peça ao se metamorfosear naquele ser pequeno e asqueroso só para depois rir da minha cara. Claro que antigamente os deuses eram mais glamourosos na escolha de suas novas formas, mas fazer o que, o mundo mudou muito e creio que os deuses também. Diante de várias conjecturas acabei em mais uma madrugada insone e decepcionada com Morfeu que continua me esnobando declaradamente. Quanto a dona do quarto do quarto estou me preparando para o possível segundo round de nossa disputa para que eu possa conseguir a reintegração de posse, afinal o quarto é meu ou não?

Por Talissa Ladeia