A jovem Helena ninava a irmã mais nova, sentada, à varanda da casa. A lua caprichosamente cheia alumiava aquela noite fria no sertão baiano. Escuridão intensa só na mata.

Ao som de grilos, Helena se distraia com as estrelas. De tão cheio delas, o céu parecia esfumaçado.

Foto: Marcus Bevilaqua

Foto: Marcus Bevilaqua

Cantarolá daqui, cantarolá de lá. A irmã mais nova dormiu. Caiu no sono profundo dos bebês. Mas Helena seguia entretida. Apreciava a beleza da noite.

Logo, tudo mudaria.

A jovem esfrega com força um dos braços. Um calafrio tomou-a de repente. Não mais havia céu estrelado. A estonteante lua agora era rabiscos luminosos, encobertos por escuras e densas nuvens.

Um silêncio assustador tomou aquele cenário. Parecia que os ouvidos de Helena haviam entupido. Os pelos do braço se arrepiaram. Frio na barriga. E então, a garota começou a assuntar uma figura estranha que se aproximava, em meio à escuridão do terreiro.

Estava longe, mas aquilo que se achegava parecia um porco. Enorme! Pensava a jovem.

Helena dilatou o olhar, buscava ter clareza daquilo que vinha de lá.

Espera, espera! Não mais parecia um porco. Lembrava um jumento. Sim, era um jumento – presumia. E se aproximava mais, lentamente. Cada vez mais próximo.

Não, não. Não é um jumento, parece mais um cabrito – se perdia a jovem!

A irmã mais nova seguia dormindo no colo de Helena, que olhava fixamente para aquela estranheza que, a cada instante, se aproximava dela.

A porta da casa se abriu com um vento frio que soprou. A audição de Helena voltara. Foi o único momento que a jovem tirou as vistas daquilo que lhe seduzia na escuridão. Olhou para trás, atraída pelo retorno do som aos seus sentidos.

Coitada. Não deveria!

Quando retornou o olhar para a frente, uma criatura horripilante avançou sobre ela. Helena não exitou. Arremessou a irmã de colo para dentro de casa e, num pulo desesperado, berrou…

– Acode, pai. Lobisomem! Lobisomem!