Quanto ainda custa no mercado a ‘carne negra’? Ela ainda é a mais barata? Como bem denunciou em sua canção ‘A Carne’, que ecoa extramuros, Elza Soares: “Que vai de graça pro presídio. E para debaixo do plástico. Que vai de graça pro subemprego. E pros hospitais psiquiátricos”. Qual valor nos dão ainda hoje? Somos ainda sinônimos de coisa ruim? Temos ainda nossa cara preta como suspeita preliminar de qualquer delito? Quais nossos espaços? Quem nos houve? Onde estamos?

zumbi_bnlMissa afro em São Paulo comemora o Dia da Consciência Negra/Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Vamos além da discussão da seguinte esvaziada: “Não precisamos de um dia da consciência negra, mas humana”. Não é bem assim!

O Dia Nacional da Consciência Negra, neste 20 de novembro, serve sim para denunciar que ainda não somos humanos o suficiente para abrir mão de uma data como esta, que serve de alerta para o racismo nosso de cada dia. Racismo este que fere, que mata, que oprime a maioria da população brasileira, em pleno ano de 2015.

Qual vai ser o dia que, em vez de termos campanhas virtuais, nas redes sociais, do tipo “#SomosTodosMaju”, “#SomosTodosTáisAraújo”, “#SomosTodosAranha”, “#SomosTodosMacacos”, tenhamos punição nos rigores da lei àqueles que cometem o crime de racismo?

Quando teremos magistrados que deixarão de ver atos de racismo como “apenas” uma “injúria racial”, para abrandar a pena dos muitos preconceituosos que ainda destilam seus venenos Brasil a fora?

Pior, quando será que o racismo vai deixar de ser visto como “mal entendido”? Racismo não é mal entendido, como muitos racistas se defendem quando têm seus delitos desnudados. Não! É crime inafiançável!

Pena que o último país a abolir a escravidão ainda não comemore no dia da Consciência Negra os frutos da igualdade racial. Pelo contrário, ainda tem que fazer muitos questionamentos, denúncias e escancarar, como este artigo o faz, essa mentalidade ultrapassada de parte da nossa sociedade.

Fica-nos o exemplo de resistência de Zumbi dos Palmares, dos heróis negros da Revolta dos Búzios, de negros e negras quilombolas que ainda hoje sofrem a invisibilidade social, mas persistem, têm orgulho da cor da pele. Por tantos outros negros e negras que ainda são vistos, mesmo com todo este acesso fácil à informação, como ”seres menores”.

Nossa arma é o combate diuturno contra essa problemática social, com a cabeça erguida e o sorriso no rosto. É como diz a canção do Olodum: “Negro revela grandeza, seu mundo não reina tristeza”!