Era manhã de terça-feira, quando o celular tocou e do outro lado da linha a grávida solicitava que o marido comparecesse em seu trabalho, o calendário marcava 38 semanas e os primeiros sintomas surgiram, a flor estava para desabrochar… Um pulo da cama e num piscar de olhos, pronto e já dentro do taxi percorrendo as ruas de Salvador.

Flor

Em meio a correria, sinaleira fecha, engarrafamento, caixa eletrônico sem grana, aff, tudo parece jogar contra, sem problemas, é terça-feira é tempo de abrir caminho e ir adiante, sigo na fé… Encontro com ela e sou recebido um leve sorriso no rosto, vamos ao ponto e ensaiamos pegar um ônibus, mas 9 meses de gestação, com expectativa e preocupação, é melhor optar por um taxi…

Somos bem recebidos no Centro de Parto Normal (CPN) da Mansão do Caminho, que fica no bairro de Pau da Lima, mas ainda não é a hora. Caminho de casa e vamos adiantar os detalhes do quarto da menina que estar por vir. Furadeira na mão, bucha, parafuso. Prende quadro, coloca suporte de cortina, prateleira, lava o kit berço, passa roupinha, arruma o mobile e a noite chega…

Uma noite dolorosa

No lugar do singelo sorriso a expressão é de dor. MUITA dor com as contrações que não param. O vizinho chega e é de imediato acionado para que retornemos ao  CPN, desta vez com mala e mochila, vamos com esperança. É agora !!! Doce ilusão, de uma madrugada de emoções intensas.

Ao retornar para casa, novamente as contrações marcam presença, firme e FORTE. No entanto, mais forte do que tudo e todos, era a vontade de Thaise de Oliveira, no lugar de escândalo e gritos desesperadores, o chamado por Nossa Senhora era constante, o ponteiro parece passar vagarosamente, diante de tantas dores abdominais.

Chega a quarta-feira, dia de justiça, acredito que não era mais justo tanta dor para uma pessoa só… O rosto de cansaço era visível, as dores NÃO passavam e se repetiam insistentemente. Mãe, irmã, marido todos olhavam com pena, aqueles corpos juntos e misturados, numa sensação de incômodo e  amor.

Pra nunca mais esquecer

Flor da Chapada

Respira-se fundo, pega as malas, entra no taxi e vamos desta vez rumo ao Hospital Santo Amaro. Ao chegar lá, não tinha Santo que desse jeito, pois ficar no corredor sem perspectiva de ser atendida e com tantas contrações fortes, ninguém merece.

Agora o trajeto é cidade baixa, Bonfim, sugestivo não? Mais sugestivo ainda é o destino final, Hospital Sagrada Família.

Ufa, tudo certo e o atendimento enfim acontece. Triagem, aferir pressão, avaliar exames, dilatação… Opa, tudo lindo e correndo bem, mas com MUITA dor ainda…Obstetra acionado e já no local, solicitação de internamento é emitida, plano de saúde autoriza os devidos procedimentos.

Recepcionista diz que o marido vai acompanhar o parto assim que o médico avisar. Médico diz que avisou, mas o pai não foi encontrado, o pai, nervoso na parte de baixo retruca sobre sua ida ao Centro de Obstetria para acompanhar o parto. Ver o que mesmo?“Seu bebê já nasceu”!!! Gelei e retruquei de imediato: Como assim? Nem eu e nem minha sogra entramos para acompanhar nossa querida grávida? Ninguém nos avisou!  É isso mesmo?

9 meses – Presente. 9 consultas – Presente. 5 Ultrassons – Presente. Na hora do parto – ausente. Existem momentos que são sagrados e se for sagrado e único, uma vez passado nunca mais. Certo, é claro e óbvio que a alegria de saber que minhas flores estavam bem regadas e tranquilas era maior do que qualquer sentimento, mas era inevitável não ficar indignado.

Esse que aqui vos fala, sonhou com esse momento, gostaria de segurar a mão de sua parceira, olhar para ela e rememorar os 9 meses de expectativa, planos e projetos, esperava ouvir o choro ou grito imediato de sua princesa no reino chamado mundo/vida, todo o acompanhamento prévio era com vistas aqueles minutinhos sagrados, que foi vivido de maneira“solitária”pela nobre guerreira que não sucumbiu aos lampejos de dor e com força, garra e atitude deu a luz a uma linda flor.

A voz tremia, a lágrima descia, alegria e alívio, se misturavam com a vontade de voltar no tempo e estar mais perto ainda do que eu gostaria de ter visto. Depois de horas, eis que surge a mulher valente que em sua primeira gestação optou pelo parto normal, alguns minutos depois, uma estrela, ou melhor, uma linda menina vem enrolada de azul dentro de um carrinho.

 

Quase 50 cm materializado numa flor/gente  me fez lembrar que:

Eu já te amava antes de você existir
Quando percebi que estava por vir
Esse sentimento cresceu mais ainda
Hoje você é realidade em nossas vidas
O jardim da emoção mudou
As gotas de felicidades
Se tornaram uma chuva de alegria
O frio do medo
Deu espaço aos ventos de coragem
Sigo com vocês
Sempre regando este amor que eu sei que é de verdade