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Ed Ribeiro (à esq.), ao lado de Jean Paul de Bernis, da Académie du Mérite et Dévouemente Français, na Galeria Everarts, em Paris. Ao fundo, obra em que retrata o orixá Xangô

O empreendedorismo e o talento estão na veia do artista plástico baiano Ed Ribeiro, 61 anos. Reconhecido hoje nacional e internacionalmente como o “artista dos orixás”, ele, o primogênito entre 17  filhos (todos com nomes iniciados pela letra “E”) de uma família humilde do Recôncavo, natural da zona rural de Catu, sempre foi repleto de sonhos, lutas e realizações.

Ao migrar para Salvador, ainda jovem, Ed Ribeiro chegou a ser vendedor de aparelhos de refrigeração e panificação, abriu empresa de prestação de serviços e, posteriormente, o Point do Acarajé, na região do Canela, negócio que ele define como a “primeira casa de acarajé da Bahia”. No ano de 2005, porém, o comerciante começaria a sair de cena. Nascia o artista. Mas essa história é o próprio pintor que nos conta, em entrevista concedida ao Bahia na Lupa.

Como foi que o senhor descobriu a pintura?

Deus olha demais para mim. Sou muito grato a ele. Eu estava cansado de trabalhar com comércio, que é uma atividade muito desgastante, embora o meu negócio [Point do Acarajé]  fosse um sucesso, inclusive bastante noticiado pela imprensa. Como já estava insatisfeito, pedi a Deus para que ele me libertasse daquilo. Eu entendia pouco de arte, mas sentia a energia da pintura. Comecei a pesquisar lugares para aprender a pintar. Um dia, ao sair do edifício onde morava, peguei um folheto de uma pessoa na rua, que anunciava um curso de pintura próximo de minha casa. Fui até o atelier e paguei por dez aulas. Só fiz quatro e depois já comecei a pintar sozinho…

A técnica do derramamento de tintas sobre a tela é uma marca característica da sua obra. Como foi que o senhor teve contato com ela?

Eu fui visitar um amigo em Itapuã e queria presenteá-lo com uma pintura, mas não havia levado material algum. Fui até uma loja de materiais de construção e comprei algumas tintas. Ao chegar na casa dele, meu amigo se sentiu incomodado porque a parede estava suja e não permitiu que eu pintasse naquelas condições. Disse-me para voltar outro dia para pintar. Ao retornar para minha casa, tive a ideia de utilizar aquelas tintas recém-compradas em uma tela que eu não gostava (Folhas de Bananeiras). Pensei: vou jogar essa tinta para acabar com essa tela, ao mesmo tempo, livro-me da tinta que não terá utilidade. Ao derramar a tinta vermelha, lembrei-me de um animal e comecei a dar forma a ele. Joguei as tintas de outras cores no corpo dele e expus o quadro no Point do Acarajé. Todos adoraram. A partir daquele momento, nunca mais usei o pincel, espátula ou qualquer outro instrumento.

 

ogumOgum, por Ed Ribeiro

E onde foi a sua primeira exposição?

Logo um mês depois, no Hotel da Bahia. Foi um grande sucesso, onde consegui vender telas para Estados Unidos e Alemanha, além da própria Bahia. Ainda no primeiro ano de pintura consegui expor meu trabalho em Nova York também. Em 2010, com cinco anos como artista, fui o primeiro baiano a ser laureado pela Academie Arts Sciences e Lettres de Paris. Em setembro do mesmo ano teve minha exposição do Museu do Louvre.

Qual é a importância dos orixás do Candomblé na obra de Ed Ribeiro?

Bem, 95% de minhas pinturas são orixás. Tenho como tema a cultura afro. Sinto que sou abençoado por nossos orixás. Acredito que hoje eu seja o artista que mais pinta os deuses africanos em todo o mundo. Ser reconhecido como o “artista dos orixás” é uma honra para mim. Sempre pinto os orixás de acordo com seu dia. Exemplo: Yansã na quarta-feira. Minha primeira pintura desse próximo ano, portanto, será a nossa mãe guerreira (2014 começa em uma quarta-feira).

Os orixás te inspiram muito?

Todos nós somos iluminados e inspirados. Você também é em seu trabalho (risos). Diria que também sou.

 

iansaYansã, orixá que reina em 2014, ano que começa em uma quarta-feira, de acordo com o Candomblé

É possível descrever a técnica do derramamento de tintas?

Crio formas e movimentos sem usar pincéis, espátulas ou qualquer outro instrumento. Hoje, o mundo quer saber como faço. É uma técnica discutida nas universidades de Artes do Brasil e do mundo. Derramo a tinta na posição horizontal e vou movimentando a tela de acordo com a forma que irei fazer.

 

Quais clientes famosos o senhor pode citar?

Jorge Aragão, Ivete Sangallo, Jorge Vercillo, Jaques Wagner, ACM Júnior. Estou vendendo uma obra agora para o governador de São Paulo [Geraldo Alckmin] também. Tenho colecionadores dos meus trabalhos em diversos países, como EUA, França, Alemanha, Canadá, Itália, Espanha… Os norte-americanos são os maiores compradores. No Brasil, o maior colecionador do meu trabalho é de Belo Horizonte, com 12 obras adquiridas.

 

De que forma o senhor vê o mercado das artes aqui na Bahia atualmente?

De um modo geral é muito fraco, mas consigo vender. Deveria conseguir mais, levando-se em conta que a cultura afro é muito forte. Como diz um dito popular: se ficar parado vira um coqueiro que não sai do lugar. Estou praticamente morando no Rio de Janeiro hoje, mas também fico bastante em Belo Horizonte, Brasília e São Paulo. Estarei em Salvador no final de dezembro.

 

oxalaOxalá, por Ed Ribeiro

Quem ainda não conhece o seu trabalho pode ter contato com ele como?

Há obras em diversas galerias do Brasil. Em Salvador, tenho uma exposição permanente no Hotel Tulip inn – Centro de Convenções. Tem minha Fanpage no Facebook. Em 2014 farei uma turnê internacional pela Europa, contratado por uma empresa aérea,  provavelmente ficarei mais de um ano expondo em diversos países: Espanha,  França, Holanda, Suíça, Portugal, Alemanha… Já em 2015 farei uma exposição em um grande espaço em São Paulo. Também já ilustrei diversas capas de livros e CDs.

Quais são os teus objetivos futuros e o que te motiva a pintar?

Vim para vencer e mostrar o meu trabalho ao mundo, ser reconhecido, ajudar as pessoas, porque vim de uma família muito pobre. Quero que o ser humano perceba o valor da arte. Hoje eu me sinto uma outra pessoa. A arte para mim não é um trabalho. É um grande prazer. Agradeço sempre as oportunidades que tenho e as pessoas que têm entrado em minha vida, ajudando a abrir as portas.

Qual mensagem Ed Ribeiro poderia deixar para os leitores do Bahia na Lupa?

Quero agradecer a Deus por conta da oportunidade, a você e a todos que acompanham o seu trabalho. Desejo a todos um feliz Natal e um ano-novo com muita prosperidade, saúde, paz e felicidades. Que Deus, todos os santos e o orixás protejam sempre todos vocês! Axé!

Mais informações sobre Ed Ribeiro:

Email: edribeiro@edribeiro.com.br

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